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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Location:
Paris, France
Networks:
RFI
Description:
Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Language:
Portuguese
Episodes
"Sobreviventes": filme sobre naufrágio de navio negreiro questiona colonialismo português
5/2/2025
O filme 'Sobreviventes', uma coprodução Brasil-Portugal, estreou nos cinemas brasileiros em abril e será projetado neste domingo (04) na mostra competitiva do Festival de Cinema Brasileiro de Paris. “Sobreviventes” é o último trabalho do cineasta e documentarista José Barahona, morto em novembro de 2024. Com roteiro assinado por José Eduardo Agualusa e pelo próprio Barahona, a obra conta a história de um grupo de náufragos de um navio negreiro - negros e brancos - isolados em uma ilha deserta no século 19, onde enfrentam o dilema entre reproduzir hierarquias do passado ou construir um novo modelo de convivência, tendo como pano de fundo a escravidão e o colonialismo português.
“Sobreviventes” encerra a trajetória de Barahona, cineasta que dedicou grande parte de sua carreira a questionar as relações históricas entre Brasil e Portugal.
"O projeto nasceu em 2012, quando José escreveu a primeira versão da história, ainda como um resquício do documentário 'Manuscrito Perdido', que ele tinha filmado antes no Brasil", relembra a produtora Carolina Dias. O roteiro foi desenvolvido em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, uma escolha que ela considera essencial: "Fazia todo o sentido trazer um roteirista africano, e o Agualusa tem esse conhecimento tão vasto da cultura angolana, mas também portuguesa".
A obra traduz, segundo a produtora, diversas questões que o diretor levantava frequentemente sobre as relações históricas de Portugal com o Brasil e a África. “Ele gostava de questionar esse olhar de glória que os portugueses têm sobre o colonialismo. Ele não estava de acordo com esse olhar, 'a custa de quem a gente fez tudo isso? O que a gente provocou no mundo com esse colonialismo?' Ele gostava de cutucar, colocar essas questões e suscitar esses debates”, relembra Carolina.
Desafios das filmagens
As filmagens, em uma ilha do Oceano Atlântico, transformaram-se em uma verdadeira aventura, refletindo a própria temática do filme. Foram cinco semanas de gravação, com a equipe enfrentando grandes desafios de acesso às locações e as variações do clima. "José teve a ideia numa praia de acesso difícil, onde a gente tem que descer por uma trilha com corda no final. Para ele, sempre tinha que ser nessa praia", conta Carolina. A natureza torna-se, assim, elemento fundamental na narrativa: "Foi sempre um personagem que ele quis que fizesse parte do filme".
Paulo Azevedo, que interpreta o Padre Angelim, descreve seu personagem como um espelho das contradições sociais ainda presentes. "É um personagem que nasce em Portugal e vai muito cedo para o Brasil. Ele fala um pouco dessas pessoas sem raízes, que não são nem de um lugar nem de outro, mas que se escondem por trás dos personagens sociais que vestem", explica o ator, que já havia colaborado com Barahona em outros dois longas-metragens, “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” (2015) e “Alma Clandestina” (2018).
"Durante as sessões, tanto no IndieLisboa quanto na Mostra de São Paulo, a gente pode ver o quanto as pessoas têm quase um riso nervoso por perceber que, mesmo em uma situação no século 19, algumas falas e situações estão presentes ainda hoje", observa Paulo, destacando a contemporaneidade das questões abordadas no filme.
O ator ressalta a importância de revisitar esse período histórico: "Assim como a Europa e o hemisfério norte olham tanto para a Segunda Guerra e a gente vê tantas versões sobre esse mesmo fato, ainda falta muito para entendermos como a escravatura envolveu tantos países e qual o papel de cada um deles, e como isso está presente ainda hoje”.
Paulo Azevedo destaca ainda a mensagem que o filme propõe ao dialogar com o momento atual da sociedade. "A gente fala muito de como manter viva a democracia, e não tem como avançar qualquer discussão sem pensar o racismo. É olhar para essas cicatrizes e tentar construir alguma forma de reparação para ter uma sociedade que vale a pena para todo mundo".
Legado
Embora ambientado no passado colonial,...
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"O cinema brasileiro está bombando", diz diretora de Festival de filmes nacionais em Paris
4/29/2025
Começa nesta terça-feira (29) o 27° Festival do cinema Brasileiro de Paris. Até 6 de maio, o evento apresenta oito longas-metragens de ficção em competição, nove em sessões especiais e documentários. Na noite de abertura, a atriz e diretora paraense Dira Paes receberá o Troféu Jangada, a sua primeira premiação na Europa. A RFI conversou com Katia Adler, diretora do festival, para saber os destaques deste ano.
O tradicional festival do cinema brasileiro em Paris acontece no cinema L'Arlequin, no bairro turístico de Saint-Germain-des-Près. A organização selecionou 31 filmes, de vários gêneros. Katia Adler fala sobre o bom momento do cinema nacional. "É uma diversidade do cinema brasileiro, que esse ano está bombando. A gente tem um primeiro Oscar, a gente teve um prêmio em Berlim e tem um filme do Kleber Mendonça em Cannes. Eu sinto que os franceses estão muito curiosos para ver o festival", afirma. "Eu diria que 80% dos filmes são inéditos e muitos deles só vão passar no festival, que serve de vitrine para outros festivais na Europa", completa.
A sessão de abertura terá a exibição do drama "Vitória", de Andrucha Waddington, com Fernanda Montenegro no elenco. O filme conta a história de Nina, uma mulher de 80 anos que, sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de droga em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Na mesma noite, a atriz Dira Paes, um dos grandes nomes do audiovisual brasileiro, receberá o Troféu Jangada. A sua carreira cinematográfica será celebrada no festival parisiense com a exibição de cinco longas-metragens que marcaram sua trajetória como atriz e diretora. Natural de Abaetetuba, no Pará, a artista comemora 40 anos de trabalho, em que participou em mais de 40 filmes e 20 produções para a televisão.
"A Dira é uma representante não somente do Pará, mas ela defende as mulheres, defende várias causas. Ela não tem medo de nada, de colocar o seu rosto. E, além disso, ela começou pelo cinema e não pela televisão, o que é muito interessante", explica a diretora do festival.
Dira Paes receberá o prêmio das mãos de Marina Foïs, atriz franco-italiana escolhida como madrinha desta edição do festival. Ela ganhou fama na década de 1990 como membro da trupe Robins des Bois e é uma apaixonada pela cultura e pelo cinema brasileiro. "Ela é francesa e tem uma carreira parecida com a da Dira. Ela começou a trabalhar na televisão e agora está indo para o cinema. Mas ela é super engajada e a gente precisa, no mundo atual, desses engajamentos sem medo", observa Adler.
Na dia 6 de maio, às 14h, Dira Paes ministrará uma Master Class, no anfiteatro Richelieu, na Sorbonne. Na ocasião, ela falará sobre seu trabalho como atriz e diretora, função na qual estreou com o filme Pasárgada, lançado em 2024. Outros filmes da atriz serão apresentados no festival: "Anahy das Missões" (1997), de Sérgio Silva; “Órfãos do Eldorado” (2015), de Guilherme Cezar Coelho; “A Floresta Esmeralda” (1985), de John Boorman e “Manas” (2024), de Mariana Brennand Fortes.
Na quarta-feira (30), será exibido o longa-metragem brasileiro "Ainda Estou Aqui", ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025. Entre os 40 convidados especiais do evento estará Ana Lúcia Paiva, também conhecida como Nalu, filha de Rubens Paiva e Eunice Paiva, cuja história é retratada no filme de Walter Salles. Ela mora em Paris há vários anos e estará no Festival do Cinema Brasileiro para apresentar o filme que conta a história de sua família.
"Como o filme já foi lançado, a gente quis trazer o público para debater esse filme. Isso nos interessa muito. E convidamos a Ana Lúcia Paiva, a Bárbara Luz, a atriz que vive ela, e também a Martina Clermont Toner, que é a produtora do filme e que trabalha com Walter desde Central do Brasil", destaca.
Outros nomes convidados são o diretor Karim Aïnouz, a atriz Sílvia Buarque, o ator Roberto Bomtempo, a diretora Liliane Mutti, a atriz Maria Fernanda Cândido, o diretor Marcos Schetman e o bailarino Thiago Soares, entre outros.
Os dois últimos...
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Nara Vidal lança na França romance “Puro”, sobre movimento eugenista no Brasil nos anos 1930
4/28/2025
“Puro”, da escritora Nara Vidal, vencedor do prêmio de melhor romance da APCA, a Associação Paulista de Críticos de Arte em 2024, acaba de ser lançado em francês, pela editora La Place. A escritora brasileira, atualmente radicada em Londres, veio a Paris participar do lançamento do livro que aborda o eugenismo no Brasil dos anos 1930.
A mineira Nara Vidal começou a escrever em 2010. Suas primeiras publicações foram livros infanto-juvenis. O primeiro romance, “Sorte”, foi lançado em 2018 e conquistou o 3º lugar no Prêmio Oceanos. Os livros seguintes “Mapas para desaparecer” e “Eva” foram finalistas de importantes prêmios literários.
“Puro”, traduzido por Mathieu Dosse, é o seu primeiro livro traduzido para o francês. O livro chegou às livrarias em 23 de abril, mas o lançamento aconteceu durante o Festival do Livro de Paris, no início de abril, com a participação de Nara Vidal.
“Foi uma alegria imensa porque pela primeira vez eu tenho um livro traduzido para o francês. Foi muito bom poder estar em contato com leitores e potenciais leitores franceses do livro. É sempre muito bom ver o livro viajar dessa maneira”, festeja.
O premiado romance, editado no Brasil pela Todavia, é ambientado na década de 1930, na fictícia cidade mineira de Santa Graça. A narrativa polifônica explora o movimento eugenista no Brasil, na época do governo de Getúlio Vargas, que foi apagado dos manuais escolares e da memória, ressalta a escritora.
“O puro nasceu basicamente de uma lacuna na educação brasileira. Eu cresci durante a ditadura e quando já adulta, eu me deparei com esse artigo da Constituição brasileira, da década de 30”, lembra. O artigo em questão, que é citado na primeira página do romance, é o 138 da Constituição de 1934 que delibera “estimular a educação eugênica”.
Na sua pesquisa para escrever o livro, Nara Vidal encontrou outras camadas dessa busca por uma “pureza de raça”, como o racismo e o capacitismo. “É mesmo muito aterrador, muito chocante estar em contato com essa parte da nossa história, que foi sim um pouco deixada de lado, mas que é importante que a gente encare e traga de volta, mesmo que seja por uma proposta de ficção, uma proposta artística”, salienta.
“Teatro de horrores”
“Puro” retrata o desaparecimento de crianças negras na fictícia cidade mineira de Santa Graça. O livro mistura realismo, literatura fantástica e de horror. Nara Vidal ri da descrição de “teatro de horrores” feita por muitos críticos.
“Esse teatro de horrores é, na verdade, um super elogio para mim. Eu fico muito feliz porque eu gosto muito da arte e da literatura quando elas nos desnorteiam um pouco. Pode ser através de encantamento, pode ser por horror ou por incômodo. Eu gosto muito que o livro mexa com as pessoas”, diz.
Na opinião de Nara Vidal, vários fatores - o prêmio APCA, que deu a maior visibilidade para o livro no Brasil – teria contribuído para que “Puro” fosse seu primeiro romance traduzido e publicado no exterior. Mas a escritora acha principalmente importante ressaltar o “timing do tema”.
"Acho que é um tema que está vindo muito à tona porque coincide com esse novo avanço da extrema direita, uma direita extremista, com características mais fascistas. Toda essa onda, ela casa muito bem com a crítica ao passado, um passado que nos assusta pela possibilidade de volta. Existe essa ameaça da volta dos tempos sombrios que a gente precisa conhecer para poder combater”, acredita.
“Puro” também está sendo lançado este mês em inglês pela editora nova-iorquina Printim e será adaptado para o cinema pela produtora Buda Filmes, com previsão de lançamento em breve.
“'Puro'" está tendo uma vida muito bonita, muito interessante. Para mim é inédito. Eu nunca experimentei isso. É ֤֤bonito ver como o livro vem chegando a outros leitores, outros caminhos”, conclui Nara Vidal, esperando que o sucesso do romance no exterior abra caminho para a tradução de outras de suas obras.
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Escritor Jean-Paul Delfino romanceia em francês a vida e obra de grandes nomes da MPB
4/24/2025
Jean-Paul Delfino é o mais brasileiro de todos os escritores franceses. Ele tem mais de 30 livros, entre romances e ensaios, divulgando na França a história e a cultura brasileiras. Seu projeto editorial mais recente é a série “Música Popular Brasileira”. Os dois primeiros volumes sobre Chiquinha Gonzaga e João Gilberto acabam se ser lançados.
Jean-Paul Delfino começou sua carreira escrevendo sobre o Brasil, e mais precisamente sobre a música brasileira. Seu primeiro livro, “Brasil Bossa Nova” foi lançado em 1988. De lá para cá, foram mais de 30 publicações e hoje ele é reconhecido como um dos grandes especialistas da MPB na França. O primeiro romance sobre o Brasil, “Corcovado”, de 2005, foi um sucesso de público, que deu origem a uma “suite brasileira” composta por vários livros.
Quase quarenta anos depois da primeira publicação sobre o Brasil, o escritor francês volta à música brasileira, mas desta vez com um formato híbrido, entre documentário e ficção. Na série “Musique Populaire Brésilienne”, Jean-Paul Delfino assina os romances inspirados na vida e obra de grandes nomes da MBP, e a documentarista Helena Crudeli as resenhas históricas que permeiam o livro.
A coleção, que terá cerca de 25 títulos, é lançada na França pela Istya & Cie neste momento em que a Unesco homenageia a língua portuguesa ao indicar o Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro. Os dois primeiros volumes, “Chiquinha” e “João Gilberto” - acabam de chegar às livrarias.
Jean-Paul Delfino decidiu romancear a vida dos grandes nomes da MPB porque “queria dar uma visão do João e da Chiquinha bem diferente. O que me interessa agora não é tanto a musicologia dos artistas, mas é a vida dos artistas”. O escritor acredita que não se pode compreender a música de um artista sem conhecer a trajetória dele. Ele diz, por exemplo, que “a trajetória da Chiquinha Gonzaga é uma coisa completamente incrível, e quando você conhece a história dela, você conhece também a história do Rio de Janeiro e a história do Brasil”.
O escritor quis que a série começasse com o livro dedicado a compositora e chefe de orquestra brasileira, cujo título é “Chiquinha, la dame en noir de la musique brésilienne” (a dama vestida de preto da música brasileira). “Eu acho que a mulher no mundo musical brasileiro foi muito esquecida. Começar uma coleção sobre a MPB com Chiquinha Gonzaga, a mulher vestida de preto que era filha de uma empregada africana, para mim era uma evidência”, revela.
“A Bossa Nova não existe”
O título do volume dedicado a João Gilberto, “a Bossa Nova não existe”, pode parecer uma provocação, mas Delfino relembra que a frase é do próprio músico baiano. “Eu não poderia escrever uma coisa assim, mas ele (João Gilberto) sempre falou assim: ‘a bossa nova não existe, a bossa nova é uma coisa de jornalistas’”, cita. O estilo, segundo ele, tem até data de nascimento e morte. “O nascimento é 1958, com ‘Chega de Saudade’. A morte é o 1° de abril, com a ditadura chegando no Brasil”, detalha, lamentando a homogeneização e americanização atual da música no Brasil e no mundo inteiro.
Para o escritor francês, João Gilberto inventou “uma maneira diferente de cantar” e é um gênio. “No mundo inteiro, ninguém inventou um estilo musical sozinho, como João Gilberto”, sentencia.
Brasil como fonte de inspiração
A produção literária de Jean-Paul Delfino, que é inclusive traduzida e publicada no Brasil, é fecunda. Os dois primeiros volumes da coleção MPB não são os únicos livros que ele está lançando este ano. Também acaba de chegar às livrarias o romance “L’homme qui rêvait d’aimer” (O homem que sonhava amar), pela editora Hervé Chopin, que também fala do Brasil.
O país parece ser para o francês uma fonte de inspiração inesgotável. “É um presente. Eu não sei se eu mereço isso. Eu comecei com o 'Brasil Bossa Nova' e cada vez que eu tentei de me separar um pouquinho do Brasil, foi impossível”, afirma.
Além dos novos volumes da coleção MPB, ele prepara a segunda parte do romance “Guiana”,...
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Rio Capital Mundial do Livro é marco para Brasil e para língua portuguesa, diz embaixadora
4/23/2025
A partir desta quarta-feira (23), Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais, o Rio de Janeiro passa a ser a Capital Mundial do Livro de 2025. Essa é a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa sedia essa iniciativa criada em 2001 pela Unesco, que é sediada em Paris.
O Rio de Janeiro foi oficialmente nomeado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, em 2023. A candidatura da cidade recebeu o título de Capital Mundial do Livro em 2025 por sua proposta de promoção da literatura, da leitura e da sustentabilidade no setor editorial.
“A cidade foi escolhida pelo seu compromisso com a inclusão social e o acesso à leitura, com foco especial nas comunidades periféricas e vulneráveis”, indica a embaixadora do Brasil junto à Unesco, Paula Alves de Souza.
Um dos objetivos é incentivar as pessoas, e principalmente os jovens, a ler e tentar frear o fenômeno mundial de queda da leitura. O Brasil lê menos a cada ano que passa. O último levantamento nacional “Retratos da Leitura”, divulgado em 2024, apontou que pela primeira vez desde a realização da série histórica, iniciada em 2007, a maioria dos brasileiros (53%) não lê livros.
Literatura em língua portuguesa
A iniciativa mostrará “a contribuição do Brasil na literatura em língua portuguesa”, aponta a embaixadora. Para Paula Alves de Souza, o projeto “coloca o Brasil, e particularmente o Rio de Janeiro, como polo criativo de inovação social e reconhece o papel da leitura como espaço de valorização da cultura popular”.
O Rio Capital Mundial do Livro “é um marco histórico para o Brasil e para a comunidade lusófona”, ressalta a embaixadora, lembrando que o projeto carioca teve o apoio da delegação permanente do Brasil na Unesco e do Instituto Guimarães Rosa, do Itamaraty, e espelha a diplomacia cultural do país.
Paula Alves de Souza acredita que a demora na escolha de uma capital mundial do livro em língua portuguesa se deve “talvez por nós, países de língua portuguesa, não entendermos ainda a importância da língua portuguesa como grande vetor de projeção Internacional”, apesar da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Por isso, essa projeção internacional “posiciona o Brasil de forma mais protagonista no cenário Internacional das políticas públicas e é uma oportunidade fundamental de cooperação com os países lusófonos”.
Combater a homogeneização da cultura
Para a diplomata, o Rio Capital Mundial do Livro é reflexo do amadurecimento da política cultural brasileira e da sociedade civil, que mostra outras caras, outras manifestações culturais, diferentes dos eternos clichês da praia, do samba e do futebol.
Também é “uma resposta ao desafio de posicionar a língua portuguesa, as suas indústrias criativas, mercado editorial e literatura no mundo de hoje, cada vez mais virtual, em que há uma tendência tão forte em torno de um único idioma, levando a uma espécie de homogeneização da cultura que deve ser combatida sempre”, pontua.
O Rio recebe o título de Capital Mundial do Livro da cidade francesa de Estrasburgo. Durante um ano, a partir desta quarta-feira (23) e até abril de 2026, diversas ações culturais e educacionais serão realizadas na capital carioca. A programação envolve a rede municipal de bibliotecas e os grandes e tradicionais eventos literários cariocas, como a Bienal do Livro e a Festa Literária das Periferias (Flup).
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Brasileiras expõem projeto na França em Festival Internacional de Jardins
4/21/2025
O projeto “Jardim dos Poderes Mágicos”, assinado por três arquitetas-paisagistas brasileiras, foi selecionado para o conceituado Festival Internacional de Jardins de Chaumont-Sur-Loire, inaugurado nesse sábado (19). Vanessa Zechin, Nichele Rossi e Natana Eitelven estã na França para criar o jardim que projetaram baseado no conceito de “regeneração”.
O Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire é organizado anualmente em um dos belos castelos do Vale do Loire, na França. O tema desta edição 2025 é “Era uma vez um jardim”. As três arquitetas gaúchas foram selecionadas com o “Jardim dos Poderes Mágicos”, que homenageia o folclore brasileiro e é baseado no conceito de regeneração.
“Para criar esse lado lúdico que faz parte do festival de Chaumont, especialmente este ano com esse tema, a gente conta uma história nesse jardim. Foi muito bacana poder usar personagens do folclore brasileiro - Saci Pererê, o Curupira, e a Vitória Régia - dentro de uma história de regeneração”, afirma Vanessa Zechin, que foi professora das duas outras coautoras do projeto no curso de “biopaisagismo”, que ministra no Rio Grande do Sul.
O “Jardim dos Poderes Mágios” tem uma cerca de bambu, um lago com espelhos, e muitas plantas, mas nenhuma delas foi trazida do Brasil. “A gente utilizou como referência a vegetação do vulcão italiano Etna, aqui da Europa, para representar essa evolução da vegetação depois da destruição. A gente não trouxe em espécie (plantas tropicais), mas trouxe em conceito”, explica, Natana.
Por isso, entre os personagens do folclore brasileiro escolhidos estão o “Saci e o Curupira, que são os protetores da floresta”, detalha Nichele.
Destruição das florestas e mudanças climáticas
Vanessa Zechin diz que ao abordar o tema da regeneração elas também “queriam trazer a questão da destruição da floresta que acontece no Brasil. Mas a gente trabalhou um exemplo de regeneração na Europa. A gente acredita também muito nisso de criar paisagens autóctones, que tem a ver com o lugar. Se o jardim fosse no Brasil, a gente ia fazer com plantas nativas de lá, provavelmente”.
As consequências desastrosas das mudanças climáticas para a natureza, como as enchentes do ano passado no Rio Grande do Sul, inspiraram a criação desse jardim dos poderes mágicos das três arquitetas gaúchas.
O “Jardim dos Poderes Mágicos” não é o primeiro do Brasil a ser selecionado em Chaumont. Vanessa Zechin participa do evento pela segunda vez. Em 2014 ela foi selecionada com o projeto o “Purgatório das Tentações”, desenvolvido com dois colegas italianos. Em 2020, o arquiteto mineiro Carlos Teixeira representou o Brasil com um jardim que denunciava a destruição do cerrado.
As três paisagistas brasileiras receberam uma ajuda de custo para criar o “Jardim dos Poderes Mágicos” em Chaumont. Elas foram selecionadas juntamente com 24 outros projetos de vários países.
O Festival Internacional de Jardins francês é uma importante vitrine e participar do evento “já é um prêmio em si” garantem. Mas durante esta edição 2025, que fica em cartaz até 2 de novembro, prêmios em cinco categorias serão distribuídos.
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Especialista em Vaticano acha difícil sucessor de Francisco ser latino-americano
4/21/2025
O papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, um mês depois de receber alta do hospital por uma dupla pneumonia. O primeiro sumo pontífice jesuíta e sul-americano da história, eleito em 2013 após a renúncia de Bento XVI, ficou à frente da Igreja Católica por 12 anos. Filipe Domingues, especialista em Vaticano e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, acha difícil que o sucessor de Jorge Bergoglio seja novamente um religioso latino-americano.
O jornalista Filipe Domingues foi recebido e conheceu pessoalmente o papa Francisco. Para ele, o fato de o pontífice ter morrido no dia seguinte ao Domingo de Páscoa e em um ano de Jubileu é símbolo forte.
“A Páscoa é justamente a celebração da ressurreição, e o Jubileu de 2025 celebra os 2025 anos do nascimento de Cristo. Ele morreu nesse ano de Jubileu e logo depois do Domingo de Páscoa. Ele queria estar com o povo até o final”, diz.
O especialista acredita que o principal legado de Francisco é ter “deixado uma Igreja mais aberta e acolhedora”. No entanto, Domingues não considera o pontífice um “progressista”. Ele lembra que a única mudança doutrinal feita durante seu pontificado foi sobre a pena de morte.
Por outro lado, o jornalista salienta que o papa argentino “estabeleceu diálogos e construiu pontes”. Domingues também lembra que Francisco foi eleito para fazer reformas e deu os primeiros passos para a modernização da Igreja. “Ele iniciou o processo e deixa as bases para o sucessor dar continuidade”, acredita.
Continuidade na diferença
Francisco deve ser enterrado em uma semana e o conclave para escolher seu sucessor deve acontecer em três semanas. Somente os cardeais com menos de 80 anos podem votar. Cerca de 140 religiosos devem participar da escolha no Vaticano, sendo sete brasileiros.
Filipe Domingues considera pequena a chance de um religioso vindo do mesmo continente de Jorge Bergoglio ser eleito novamente para o mais alto posto da Igreja Católica. “Eu acho difícil porque o papa Francisco deixou uma marca muito forte da Igreja da América Latina, trazendo essa visão latino-americana para o centro da Igreja em Roma”.
Na opinião do jornalista, há chances de o novo papa voltar a ser um europeu. Ele acredita que haverá uma mudança de estilo, mas sem ruptura. “Provavelmente vai ser uma pessoa de continuidade, mas talvez com um estilo diferente, uma personalidade diferente”, prevê.
De acordo com o jornalista, historicamente na Igreja Católica “há uma continuidade na diferença. Haverá uma mudança de ênfase. Talvez volte a ser um papa europeu”, pontua.
No entanto, Domingues não descarta a possibilidade de que um religioso de outra região, como a asiática, por exemplo, seja o eleito.
Clique na imagem para ouvir a entrevista completa
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Cantora brasileira Gabriella Lima, radicada na França, lança segundo CD com apoio da RFI Talent
4/18/2025
"Sabor Solaire" (Sabor Solar) é o segundo disco de Gabriella Lima, cantora e compositora brasileira radicada na França. O CD é lançado pela Biella, selo independente da artista, em parceria com a RFI Talent, que promove músicos de todos os horizontes e continentes.
Gabriella Lima é a primeira cantora e compositora brasileira a ser apoiada pela RFI Talent. A artista, que começou a carreira na França, cantando em bares, considera essa parceria um ponto de virada.
“A RFI foi a primeira a me dizer sim. É como se uma instituição validasse o meu trabalho de artista independente. Até então estava sozinha. A RFI como parceira principal, como um padrinho, deu um peso maior ao meu trabalho. É um cartão de visita”, festeja.
O título do novo CD, “Sabor Solaire”, com uma palavra em cada língua, é uma boa síntese da carreira de Gabriella Lima. Natural de São Paulo, ela vive na França desde 2014 e como diz a letra de uma das músicas a cantora e compositora “é daqui e de lá”.
“Esse título conceitua todo o álbum. Eu falo que esse álbum conta a minha história entre a França e o Brasil, que se movimenta entre dois continentes. Uma história que já tem 10 anos”, resume.
Músicas em português e francês
Como o título, quase todas as letras do CD são cantadas nos dois idiomas e falam muito dessa experiência de viver entre os dois países. Esse duplo pertencimento ainda não era tão marcante no primeiro disco de Gabriella Lima, “Balsamo” lançado durante a pandemia, e que falava de “um outro momento”, mais introspectivo.
“Eu sou uma outra pessoa, outra artista em um outro momento. Hoje eu estou celebrando mais a vida. Estou nesse momento mais alegre, mais certa de mim, do caminho que eu quero seguir”, conta.
O resultado é um disco realmente solar, com muito ritmo, que dá vontade de dançar. O estilo de Gabriella Lima é uma fusão de ritmos bem brasileiros, que revelam suas influências musicais. Ela diz que traz “uma história em cada uma das músicas. (...) tem muito essa riqueza de tudo que eu ouço. Eu sempre ouvi muita música brasileira, muito MPB. Isso está estampado nas músicas”.
Inspiração francesa
Tem também inspiração francesa. Uma certa “poesia”, “doçura” e “elegância” que influenciaram, segundo Gabriella, as letras e o estilo do disco. Entre as dez faixas está “Se me chamar eu vou”, adaptação em português da música “Suivre le Soleil”, da francesa Vanille, um sucesso nas plataformas, que já foi baixada mais de 30 milhões de vezes.
Vanille, que tem um estilo bossa nova e já gravou um CD no Brasil, com músicos brasileiros, canta na faixa “Se chamar eu vou”, junto com Gabriella Lima. “A Vanille tem esse pezinho no Brasil. Tudo o que ela conta e canta me tocava particularmente. Eu propus para ela uma versão em português dessa música. Ela adorou. Eu a convidei para cantar comigo, ela aceitou e eu fiquei super feliz”, lembra a compositora.
No dia 27 de maio, Gabriella Lima faz o show de lançamento do CD “Sabor Solaire” na sala parisiense Ermitage, prometendo, como diz a letra de uma de suas músicas, levar o público a “dançar sob as estrelas”. No Brasil, Gabriella Lima também tenta desenvolver sua carreira e é conhecida principalmente nas redes sociais.
Clique na foto principal para assistir a entrevista completa e ouvir uma das músicas de Gabriella LIma.
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“Elementos brasileiros” marcam obra de autor franco-brasileiro de HQ, nunca publicado no Brasil
4/17/2025
Nicolaï Pinheiro nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, filho de pai brasileiro e mãe francesa. Ele se mudou para a França aos 18 anos e iniciou uma carreira, hoje consolidada, como autor e ilustrador de Histórias em Quadrinhos. O desenhista franco-brasileiros tem várias HQs publicadas em francês, mas nenhum de seus livros foi até agora lançado no Brasil. Nicolaï Pinheiro, cuja obra traz “elementos profundamente brasileiros”, tem "esperança" de um dia ser publicado em português.
Nicolaï Pinheiro sonhava em ser autor de histórias em quadrinhos desde criança, mas foi na França que pôde concretizar essa ideia “um pouco estranha, um pouco maluca”, lembra. No início dos anos 2000, ele deixou o Rio de Janeiro para estudar Belas Artes em Montpellier, no sul da França.
Os primeiros trabalhos profissionais e as primeiras histórias autorais não abordavam temas brasileiros. “Naquele momento, acho que eu queria ganhar alguma legitimidade, como autor, antes de ser visto, talvez um dia, como um autor brasileiro”, lembra. Dessa primeira fase, se destacam a trilogia “Venise” ou “La drôle de vie de Bibow Bradley" (A vida engraçada de Bibow Bradlley).
Os temas ainda não era brasileiros, mas o traço, o estilo, as cores e as formas tinham "elementos profundamente brasileiros", ressalta Nicolaï. “Eu acho que a minha relação tanto com o traço, quanto com as cores, vem da minha infância, da minha cultura, das primeiras coisas que me marcaram, que me emocionaram e que me deram vontade de continuar desenhando. E isso tudo ocorreu no Brasil”, destaca.
Virada brasileira
A virada 100% brasileira aconteceu em 2018, quando publicou “Lapa la nuit” (Lapa à noite), pela editora Sarbacane. O romance gráfico se passa no Brasil, mais precisamente no bairro boêmio carioca da Lapa.
“Tudo começou com uma ideia, uma vontade. de desenhar o bairro da Lapa, com uma mistura de pessoas diferentes, aquela arquitetura, aquelas luzes, aquele movimento. Para mim era importante mostrar outra coisa do Brasil ou do Rio, digamos, que não fosse o eterno clichê praia, Carnaval, futebol”, conta.
Adaptação do romance do pai
Com o livro “Ivo a mis les voiles” (em português Ivo içou as velas, no sentido de pegar a estrada), de 2023, o autor e ilustrador mergulhou ainda mais nas raízes brasileiras. A história é um “road movie” pelo nordeste do Brasil, na virada dos anos 1990, e reflete sobre temas como memória e família. “Ivo” é uma adaptação do romance "Cemitério dos navios", de Mauro Pinheiro, pai de Nicolaï.
“Foi talvez o meu projeto mais peculiar, mais emocionante e mais bonito também. Adaptar uma obra já é um exercício complexo. Adaptar uma obra do meu pai foi algo que surgiu assim quase como uma revelação”, relembra. Ele acha a história boa, mas confessa que “tinha alguma dúvida, não quanto ao projeto em si, mas quanto ao fato que ele pudesse interessar muita gente na França”. Mas os leitores gostaram dessa “dimensão pessoal” e de ver “um outro Brasil, que não é o Brasil que sempre se mostra aqui na França”, informa.
Apesar da carreira consolidada na França, o ilustrador decorou inclusive uma estação de metrô da região metropolitana de Paris, nenhum livro de Nicolaï Pinheiro foi até agora publicado no Brasil. O ilustrador franco-brasileiro assume que isso “é uma frustração, mas é algo que infelizmente não faz parte das coisas que cabem a mim decidir”. Ele continua tendo “esperança” e espera que um dia seus livros sejam traduzidos para o português.
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Brasil: primeiro Dia Nacional da Lembrança do Holocausto homenageia diplomata que salvou judeus
4/16/2025
O Brasil celebra nesta quarta-feira (16) o primeiro Dia Nacional da Lembrança do Holocausto. A data comemorativa, instituída no ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após aprovação do Congresso, foi escolhida em homenagem ao embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas, que salvou centenas de pessoas do nazismo.
O historiador Fabio Koifman, biógrafo do diplomata, considera a celebração essencial, especialmente nesse momento de aumento da intolerância, para que as pessoas tenham como referência alguém que foi um "anteparo contra a violação dos direitos humanos perpetrada por um Estado".
Luiz Martins de Souza Dantas (1876–1954) foi embaixador do Brasil na França durante a Segunda Guerra Mundial. Contrariando a política do governo brasileiro da época, liderado por Getúlio Vargas, ele concedeu vistos e salvou centenas de pessoas ameaçadas pelos nazistas, principalmente judeus. Por isso, é reconhecido hoje como "Justo entre as Nações", título atribuído pelo Memorial do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. A atuação heroica e extraordinária de Souza Dantas na França permaneceu esquecida até os anos 1980.
O trabalho de pesquisa do historiador Fabio Koifman, que publicou em 2002 a biografia "Um Quixote nas trevas", foi fundamental para o resgate da memória do embaixador. O pesquisador reuniu mais de 7.500 documentos e diz que mais de 500 pessoas foram salvas por Souza Dantas.
O diplomata não foi o único brasileiro reconhecido como "Justo entre as Nações". Aracy de Carvalho, companheira de Guimarães Rosa, que ajudou pessoas perseguidas pelo nazismo no Consulado-Geral do Brasil em Hamburgo, também recebeu o título do Memorial do Holocausto. Contudo, a homenagem a Souza Dantas destaca-se por sua ação mais ampla e decisiva.
"Intolerância generalizada"
O professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) atuou para a escolha de 16 de abril, data da morte do embaixador, para marcar o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto. As vítimas do regime nazista já são lembradas em todo o mundo, anualmente, em 27 de janeiro. Mas para Fabio Koifman, esse dia nacional também era realmente necessário, principalmente nesse momento de “intolerância generalizada” e aumento do “racismo”.
“Uma série de valores, que a gente imaginou que já estavam sedimentados, parece que estão se esvaindo, como uma questão de empatia em relação aos que sofrem, aos refugiados, aos dramas, aos grupos que são vítimas de violação dos direitos humanos”, ressalta o historiador.
Segundo ele, a data é “importante, especialmente para o Brasil ter como referência alguém que atuou em sentido contrário, para se dizer que existiram pessoas que foram solidárias e empáticas, que agiram contrariando os próprios interesses colocando em risco, e foram anteparo para a violação dos direitos humanos perpetrado por um Estado, por uma organização”.
Aproximar os brasileiros da história do Holocausto
A lembrança da atuação de um "personagem brasileiro" aproxima a população dessa temática, acredita o historiador. Ele destaca que o antissemitismo cresceu significativamente no mundo nos últimos anos, especialmente após o conflito na Faixa de Gaza, e o Brasil também sente esse impacto.
"Não é apenas o antissemitismo, mas também o racismo e a homofobia. Todo esse conjunto de intolerâncias parece estar relacionado com a forma como a internet e os grupos sociais atuam. As pessoas, principalmente os mais jovens, acabam se radicalizando, e uma intolerância generalizada emerge ou se desenvolve", avalia Koifman.
O historiador destaca que "é importante educar, mas que só a educação não é suficiente; é necessário haver penalização criminal para aqueles que se manifestam de forma racista". Ele considera a legislação brasileira contra discriminação, racismo e crimes de ódio eficaz, mas acredita que ela pode ser aprimorada. "Esperamos que o mundo digital, da internet e das redes sociais, embora mais complexo, também seja alvo de punições. Esta é a forma de...
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Cristiano Nascimento lança projetos musicais e dirige 2° Festival de Choro no sul da França
4/15/2025
O músico e compositor brasileiro Cristiano Nascimento, radicado na França, lança em abril dois projetos: o álbum "Portraits", em parceria com Will Welker, e o livro-disco "C’est l’heure du boeuf”, concebido com a francesa Claire Luzi. Os lançamentos acontecem paralelamente à 2ª edição do Festival Internacional de Choro de Aix-en-Provence, do qual é fundador e diretor artístico.
Cristiano Nascimento é um músico brasileiro que tem o violão como instrumento principal, mas se considera antes de tudo um compositor e arranjador. "Antes de ser violonista, eu me considero compositor e arranjador. Se o violonista faz alguma coisa, é graças ao compositor", destaca ao falar de seu álbum “Portraits”, realizado em parceria com o músico Will Welker.
A colaboração é resultado de mais de uma década de amizade e trabalho conjunto. "A gente já se conhece e toca junto há mais de 12 anos. E para mim é muito importante ter uma relação humana com a pessoa que eu vou dividir o palco, ensaiar, trabalhar, tocar, criar. Tem que ter muita afinidade além da música, só música não basta", explica Cristiano sobre o trabalho lançado em plataformas digitais.
O álbum explora a variedade de timbres e estilos musicais, utilizando diferentes instrumentos como violão de sete cordas de aço e de nylon, viola nordestina e guitarra elétrica.
"Eu não gosto de ficar ouvindo o mesmo timbre o tempo todo... E isso faz parte da minha música, porque é o que tem dentro de mim. E a ideia era explorar timbres e linguagens de coisas que vivi como músico de bailes e com os mestres com quem convivi", justifica Cristiano Nascimento ao falar da diversidade sonora.
O segundo projeto é o livro-disco "C’est l’heure du boeuf", desenvolvido com sua esposa Claire Luzi, por meio da companhia La Roda. A obra surgiu de um espetáculo criado em 2019, inicialmente chamado "Bum Boum mon Boeuf", que faz um jogo de palavras entre o "Bumba meu boi" do folclore brasileiro e a expressão francesa "faire le boeuf" (fazer um som de forma informal). "A gente conta essa história verdadeira que tem uma relação muito grande com o compositor Pixinguinha e o Brasil", relata Nascimento.
O livro foi escrito por Dominique Dreyfus, pesquisadora da música brasileira e biógrafa de Baden Powell e Luiz Gonzaga, e ilustrado por Sylvain Barret, um francês que mora em São Paulo. "A gente adorou a história que ela escreveu", comenta o músico sobre o trabalho de Dreyfus.
Festival Internacional de Choro
Além desses projetos, Cristiano é fundador e diretor artístico do Festival Internacional de Choro de Aix-en-Provence, que chega à sua segunda edição em 2025, fazendo parte da programação da temporada cruzada Brasil-França.
O festival enfrentou desafios financeiros, mas conseguiu se manter graças ao apoio de voluntários e parcerias. "A gente quase anulou... Mas graças a essas pessoas maravilhosas que trabalham na equipe, a gente continuou, levantou a cabeça. E viabilizou com uma ajuda muito grande da temporada do Brasil na França, do consulado do Brasil em Marselha", revela.
A programação do festival é diversificada, incluindo exposições de fotografias, oficinas e apresentações musicais. Um dos destaques é a exposição "Choromaton" de Olivier Lob, fotógrafo que documenta chorões de todo o Brasil. "Ele percebeu que não tinha tanto assim. A gente tinha algumas imagens dos grandes ícones. É pouco documentado de uma forma geral, e ele começou a trabalar não só os conhecidos, mas também os anônimos", explica Cristiano.
O festival também conta com oficinas que já atraíram mais de 40 músicos inscritos de toda a Europa, além de rodas de choro diárias. Sobre a receptividade do público francês, Cristiano comenta que desde a primeira edição o festival superou as expectativas, o que motivou a companhia La Roda e apostar nesta segunda edição. "A gente fez com medo, com cara e coragem... E foi um sucesso. Estava casa cheia, todos os eventos. A gente teve que deixar gente de fora," lembra.
Ponte Cultural Brasil-França
Desde...
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Retrospectiva de jovem artista Rafael Carneiro em Paris dissemina tintas com pigmentos do Brasil
4/14/2025
A exposição “De la Fabrique à l’Atelier” (Da Fábrica ao Ateliê), em cartaz no Espaço Molière, é a primeira retrospectiva da carreira do jovem artista plástico brasileiro Rafael Carneiro. A mostra reúne os trabalhos realizados nos últimos 20 anos e destaca o impacto do uso de tintas com pigmentos brasileiros, inventadas e fabricadas pelo próprio artista, em suas obras.
Rafael Carneiro começou a pintar muito cedo e teve seu trabalho reconhecido desde o fim da Escola de Belas Artes na USP, no início dos anos 2000. Da abstração passou a reproduzir nas telas fotografias e imagens de vídeo, antes de iniciar uma fase de superposição de várias imagens, como uma espécie de colagem.
“Eu tive trabalhos figurativos, trabalhos que tinham essa ligação com uma imagem anterior. Por muito tempo, eu me interessei por essa espécie de tradução de imagens de outras linguagens para a pintura”, explica à RFI.
Depois dessas séries hiper-realistas, Rafael Carneiro iniciou recentemente uma nova etapa de seu trabalho “produzindo mais pinturas abstratas, que também têm alguma relação com a figuração, mas têm uma ênfase muito grande na materialidade por causa do início da fábrica”.
Cores e pigmentos brasileiros
A fábrica citada, que dá nome à exposição parisiense, é a Joules & Joules fundada por Rafael Carneiro em 2020, em São Paulo, em parceria com o também artista Bruno Dunley. A empresa começou a fabricar tintas a óleo nacionais de qualidade, com preços mais acessíveis. Muitas cores são criadas com pigmentos brasileiros, propiciando uma paleta muito mais variada e viva.
“A gente não entendia como o Brasil tinha uma falta de materiais, como isso era um problema tão grave”, lembra. Historicamente, os artistas brasileiros são dependentes das ofertas de tintas importadas, muito caras. Para contornar o preço, usavam tinta estudante, mais barata, mas de menor qualidade.
“Mesmo sendo ainda um pouco caro, é infinitamente mais acessível do que era possível se comprar importado no passado. Também, a gente se esforça muito para divulgar e explicar a importância de um material profissional, porque essas ferramentas podem ampliar as possibilidades poéticas”, acredita.
A oferta de tintas nacionais teve um grande impacto na obra de Rafael Carneiro. Os quadros do pintor ganharam uma explosão de cores, com tons como “Terra de Rio Acima, “Sombra, Poços de Caldas” ou “Turmalina Negra”. Também ganharam outras espessuras e materialidade. “Numa tinta estudante você não consegue nem perceber qual a diferença material entre um pigmento e outro. Eu tinha uma relação com o material mais instrumental, e hoje me interessa muito a própria materialidade deles, de tentar na pintura explorar essas características”, explica.
História da arte
A pesquisa com os novos pigmentos e materiais também ajudou Rafael Carneiro a refletir sobre a história da arte. “Estudando a história dos pigmentos, das tintas, a gente vai compreendendo melhor como o acesso aos materiais impactou na história da arte, no tipo de pintura que foi desenvolvido ao longo do tempo. Isso é uma reflexão que mudou a relação com a minha pintura, mas também com a própria história da arte”, diz.
Segundo ele, essa maior acessibilidade a tintas de qualidade também influenciou o trabalho de outros artistas plásticos contemporâneos brasileiros. “A gente tem ficado muito contente com o impacto que tem gerado no trabalho de outros pintores”, celebra.
Todas as etapas do trabalho de Rafael Carneiro estão expostas no Espaço Molière de Paris até 10 de maio. Além dos quadros, há vídeos e amostras sobre o desenvolvimento e fabricação das tintas brasileiras. A curadoria é de Leonel Kaz. “De la Fabrique à l’Atelier” integra a programação da temporada cruzada França-Brasil.
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“O Saci”, de Monteiro Lobato, é publicado pela primeira vez na França
4/10/2025
O Brasil marca presença no Festival do Livro de Paris, o importante salão anual do mercado editorial francês, realizado a partir desta sexta-feira (11) no Grand Palais. Durante três dias, o pavilhão brasileiro propõe uma programação variada que integra a temporada cultural cruzada França-Brasil. Vários livros em português e francês serão lançados no salão, entre eles “O Saci,” de Monteiro Lobato, publicado pela editora Chandeigne-Lima.
“O Saci” é o primeiro livro de Monteiro Lobato traduzido e publicado na França. A tradução é assinada por Mathieu Dosse. A história do principal personagem do folclore brasileiro chega às livrarias francesas mais de cem anos após sua primeira publicação em português, em 1921.
O tradutor não sabe explicar por que um dos autores infanto-juvenis mais famosos do Brasil, cuja obra narrando as aventuras de Pedrinho e Narizinho no Sítio do Picapau encanta há mais de cem anos as crianças brasileiras, não interessou antes editoras francesas.
“O que eu sei é que esse livro é um livro que eu lia, em português, para a minha filha quando ela era criança. Não vou apresentar aqui o Sítio do Picapau Amarelo, o Monteiro Lobato. Todo mundo conhece, mas na França ninguém conhecia. A Anne Lima da Editora Chandeigne-Lima gostou do livro em português e falou: ‘vamos fazer?’”
A tradução francesa de “O Saci” é ilustrada pela francesa Herbéra. A contracapa descreve em uma frase a personalidade desse mito simbolizado por um menino negro, de uma perna só, de gorro vermelho e cachimbo na boca: “O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.” “As ilustrações são lindas. Acho que é uma das edições mais bonitas do "Saci" feitas até hoje”, afirma Mathieu Dosse.
Racismo em Lobato
Franco-brasileiro, Mathieu Dosse é um tradutor experiente, já traduziu clássicos da literatura brasileira, como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, e foi premiado duas vezes na França por sua tradução de “Estas Estórias”. Ele diz que apesar de centenário, esse texto “genial” do Monteiro Lobato está muito atual e foi um prazer traduzi-lo. Para isso, contou com a ajuda da filha.
“Eu acho que foi o único livro que eu traduzi que eu li depois duas vezes em voz alta, incluindo uma vez com a minha filha. Ela, de vez em quando, falava: ‘mas espera aí, isso aí está um pouco estranho. Ela me ajudou”, conta, orgulhoso. Segundo Mathieu, esse trabalho de leitura oral foi necessário “porque as crianças podem ler (sozinhas) a partir de uma certa idade, mas não é uma linguagem feita só para um público infantil. É uma linguagem que é bonita para os adultos também. Então, é muito interessante quando os adultos leem o livro para a criança e mostram as ilustrações”, completa.
Recentemente a obra de Monteiro Lobato, está envolvida em grande polêmica devido a expressões e elementos que reforçam estereótipos raciais no Brasil. O racismo na obra de Lobato foi até parar no Supremo Tribunal Federal. Alguns tradutores optam por suprimir as passagens polêmicas, outros por fazer notas de pé de página contextualizando os trechos.
Mathieu Dosse defende que em “O Saci”, ao contrário de outros livros do autor, não tem frases que “podem chocar” ou que sejam “estranhas para nosso olhar de hoje em dia”. Ele garante que, ao traduzir, não precisou suprimir nenhuma frase, apenas mudou um pouquinho algumas palavras. “Quando ele (Lobato) lembra, sempre falando da tia Anastácia, a negra, por exemplo, você não precisa falar em francês 'la noire'. Não é necessário, e não é uma questão de censurar o autor. É simplesmente que em francês não se fala assim. Quando ele bota a negra fez isso, eu posso falar a velha senhora ou voltar a usar tia Anastácia", argumenta.
No final do livro, Dosse contextualizou em um posfácio para um público francês, o universo do Monteiro Lobato, de uma família branca, com dois servidores negros. “A gente que é brasileiro sabe que tem uma questão forte do Brasil (racismo), ainda importante, mas esse livro do Saci não contém nada que...
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Fotógrafa brasileira publica livro com fotografias feitas por imigrantes em Paris
4/8/2025
O livro Les Sources (As fontes em português) é o resultado da segunda etapa do projeto Parcours (Percursos) da fotógrafa e antropóloga brasileira radicada na França, Andrea Eichenberger. A obra reúne relatos e fotografias feitas pelos moradores de uma habitação social do 11° Distrito de Paris, principalmente imigrante, que fazem uma radiografia em imagens de onde moram e de si.
“A Rua de Godefroy Cavaignac”, publicado no início de 2024, foi o primeiro livro da série Percursos. A obra foi resultado de um ateliê de fotografia realizado por Andrea Eichenberger, em parceria com a socióloga e urbanista brasileira Camila Gui Rosatti, como moradores do 11° distrito de Paris. Eles receberam uma máquina fotográfica compacta analógica na mão e foram convidados a fazer um retrato de uma das ruas do bairro, a rua Godefroy Cavaignac.
“A ideia é olhar a cidade pelos olhos dos seus moradores e, a partir das fotos que eram realizadas, a gente colhia histórias”, conta a fotógrafa à RFI.
Andrea Eichenberger, que mora na França há mais de 20 anos, se inspirou no escritor francês, ou melhor, parisiense, Georges Perec, para desenvolver esse projeto.
“A gente se inspira no que Georges Perec chamava de ‘l’Infra-ordinaire’, aquelas coisas da vida cotidiana que a gente não olha”, resumindo, as coisas banais que não prestamos mais atenção. Seguindo o exemplo do Perec, que parava em um ponto da cidade e o descrevia à exaustão, Andrea Eichenberger propõe fazer essa descrição com a fotografia. “Também é ocasião de desenvolver um trabalho de aprendizado da fotografia, porque as pessoas vão fotografar, a gente vai analisar junto essas imagens, vai ver o que funcionou, o que não funcionou”, conta.
Percursos de imigrantes africanos
No segundo volume da série “Percursos”, publicado no final do ano, Andreia Eichenberger foca em um único endereço do 11° Distrito de Paris: a habitação social “Les Sources”, que acolhe principalmente imigrantes.
O livro revela o percurso de 10 residentes do local, todos vindos de países africanos. O dispositivo é quase o mesmo da primeira etapa. Os participantes do Les Sources receberam uma câmera compacta analógica e foram convidados a fotografar cenas de sua vida cotidiana, mas receberam uma formação quase individual.
O alojamento social é um local provisório, onde as pessoas têm o direito de ficar no máximo três anos. “Nesses 3 anos, elas têm que tirar documentos, encontrar uma moradia, um trabalho fixo. Elas têm preocupações existenciais que são muito mais importantes do que um ateliê de fotografia e acabei fazendo esse projeto individualmente, encontrando as pessoas uma por uma nas casas delas”, lembra. Ela acha que isso, e o fato de ser também imigrante, acabou criando uma maior proximidade com os participantes do projeto.
Os moradores do Les Sources fotografaram muito o alojamento onde moram, parentes e amigos, mas também a rua, os locais de trabalho. Várias imagens têm efeitos ou elementos amadores, como o dedo na frente da câmera. Tem também fotos super estéticas, algumas tiradas por crianças. Para a fotógrafa, “o importante é que as pessoas se sintam representadas nesse conjunto de imagens”.
Dispositivo facilitador do diálogo
Cada série de imagens coloridas é acompanhada de relatos, ou melhor, de diálogos entre Andrea Eichenberger e os fotógrafos moradores que descobrem pela primeira vez as fotos que fizeram. Os textos complementam as fotos e ajudam a descrever a personalidade e a vivência de cada imigrante.
“As fotografias acabam sendo um pretexto para que as pessoas contem histórias. A partir do momento em que as pessoas vão fotografar os lugares que elas frequentam na cidade, elas vão contar suas histórias”, acredita.
Retratos em preto e branco feitos pela fotógrafa brasileira completam o percurso de cada morador. Andrea Eichenberger observou que as pessoas se sentem “valorizadas” com essas “fotografias em preto e branco, que saem da imagem que a gente está acostumado a ver, que é essa imagem de telefone...
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Grupo cearense Murmurando e Adelson Viana lançam álbum no Festival de Choro de Paris
4/4/2025
“De Cá Pra Lá" é o novo do novo trabalho do grupo Murmurando realizado em parceria com o maestro e acordeonista Adelson Viana. Os artistas cearenses lançam o álbum durante a participação no Festival de Choro de Paris, neste final de semana. O evento integra a programação do Ano do Brasil na França.
“Esse álbum é uma grande celebração. Em 2025, a gente celebra 20 anos do grupo e o maestro Adelson Viana faz parte da nossa história”, comemora Samuel Rocha, fundador do Murmurando. Ele lembra que o acordeonista foi o diretor musical do primeiro CD lançado pelo grupo, Assovio do Tiê. “A proposta foi unir as gerações e levar a música instrumental cearense para o mundo”, acrescenta.
As dez faixas do novo disco propõem um passeio musical por estilos diversos como o choro, baião, forró, entre outras influências de ritmos e compositores nordestinos como Dominguinhos e Hermeto Pascoal.
“Conheci esse grupo quando eram ainda muito jovens, mas já tocando uma música de muita qualidade. Percebi, maravilhado, tudo que esse grupo conquistou e resolvemos fazer essa conexão”, diz Adelson Viana, que assina a maioria das composições. No entanto, o maestro destaca o trabalho coletivo feito nos arranjos das músicas. “O resultado ficou muito bacana, estou feliz de lançar esse trabalho aqui na Europa”, afirma.
Além do lançamento do disco “De Cá Pra Lá”, durante as apresentações na programação do Festival de Choro de Paris, que acontece de 4 a 6 de abril, o grupo Murmurando e Adelson Viana também vão continuar a turnê com apresentações previstas em Lille, norte da França, e em Londres.
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Multi-instrumentista e compositora mineira é um dos destaques do Festival de Choro de Paris
4/4/2025
Raíssa Anastasia, flautista e compositora mineira, é uma das atrações do Festival de Choro de Paris, que acontece entre os dias 04 e 06 de abril. Conhecida por sua versatilidade musical e seu trabalho de pesquisa sobre mulheres compositoras, Raíssa se destaca não apenas como instrumentista, mas também como uma verdadeira “embaixadora do choro brasileiro”.
Raíssa Anastasia escolheu um repertório totalmente dedicado às mulheres compositoras para sua primeira apresentação na França, na 21ª edição do Festival de Choro de Paris. "Eu estou com um repertório só de mulheres compositoras de choro, que faz parte de uma pesquisa que eu venho desenvolvendo há um tempo. É importante promover esse repertório para que as pessoas conheçam e toquem mais músicas criadas por mulheres", afirmou na entrevista à RFI.
A pesquisa desenvolvida como acadêmica na Universidade Estadual de Minas Gerais surgiu da constatação de que as referências musicais do choro eram predominantemente de homens. “Conhecia Chiquinha Gonzaga, Luciana Rabello e, espera aí, só tem essas duas? Não, não é possível. Eu não sabia nomear outras mulheres e isso me deixou muito intrigada”, contou.
Durante sua investigação, a multi-instrumentista identificou mais de 100 composições de choro feita por mulheres, no Brasil e no exterior. Estimulada por um professor de música, ela participou de um curso voltado para estimular compositoras de choro e passou a criar seu próprio repertório. “Hoje, já tenho uns 30 choros”, comenta.
Raíssa também é diretora musical do grupo “Abra Roda Mulheres no Choro”, formado exclusivamente por mulheres em Belo Horizonte, para cobrir uma lacuna na cena musical da cidade. “Há uma ausência de mulheres na roda de choro, quando aparecia, era geralmente só solista. Então, há uma ausência de mulheres tocando violão, ausência de mulheres tocando cavaquinho, muito poucas tocando pandeiro. A tentativa é de unir essas forças para construir um trabalho de fortalecimento mesmo entre nós”, afirma. O trabalho do grupo também visa valorizar as criações de compositoras. “Esse trabalho é essencial para dar mais visibilidade às mulheres na música instrumental”, argumenta.
Projetos e disco
Além de seu trabalho com o grupo, Raíssa tem dois projetos próprios: "Raíssa Anastasia e Regional", focado em composições de choro, e "Raíssa Anastasia Quarteto", que explora uma linguagem mais livre da música brasileira. "Sempre fui coadjuvante em projetos de outros músicos, mas tomei coragem para criar meus próprios trabalhos. Quero ser livre para transitar entre diferentes estilos musicais", disse Raíssa. “Sempre me incomodou quererem me inserir numa caixinha. Eu quero poder ser livre para hoje tocar forró, amanhã jazz ou música de meditação, eu quero poder estar livre”, diz.
Raíssa Anastasia se prepara para lançar ainda este ano seu primeiro álbum, "Nascimento", com 12 faixas autorais, e planeja uma turnê pela Europa no próximo ano. "Quero mostrar o papel da mulher instrumentista na música brasileira e inspirar futuras gerações", concluiu.
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Brasileiro Rodrigo Ribeyro é selecionado para residência artística do Festival de Cannes na França
4/2/2025
O brasileiro Rodrigo Ribeyro faz parte dos cineastas escolhidos este ano para participar de uma residência artística organizada pelo Festival de Cannes. O paulista já iniciou sua estadia em Paris, onde vai se concentrar durante os próximos meses na fase de desenvolvimento de seu primeiro longa-metragem.
A cada ano, o Festival de Cannes escolhe doze jovens cineastas para uma residência artística realizada durante quatro meses e meio em Paris. Durante esse período, os diretores, que têm viagem e estadia paga pelos organizadores, podem se concentrar na elaboração de seus roteiros e no desenvolvimento de seu primeiro ou segundo longa-metragem.
“Estou muito entusiasmado. Espero que renda muito e que eu saia daqui com o projeto muito mais maduro”, disse Rodrigo Ribeyro em entrevista à RFI.
O paulista está na capital francesa junto com outros cinco diretores. “É um luxo, incrível. Cada um tem sua privacidade preservada para conseguir se conectar com sua inspiração, suas questões e desenvolver o projeto", conta. "Além disso, eles dão um apoio [financeiro] mensal para que a gente possa focar no projeto. São quatro meses e meio durante os quais eles cuidam integralmente da gente. É uma residência incrível, uma oportunidade única de vida”, celebra.
O cineasta ressalta que esse tipo de apoio é “fundamental”, principalmente no início do processo de criação. “Se essa fase não é apoiada, a gente nunca chega em projetos de qualidade”, aponta.
Durante sua estadia, Ribeyro vai trabalhar no desenvolvimento de seu primeiro longa, ‘Muganga’, que, como em seus projetos anteriores, se interessa pela relação entre o homem e a natureza. “Será uma pura ficção, que se passa na Serra da Cantareira, onde eu cresci”, conta.
Em 2021, o paulista já tinha ficado em terceiro lugar na premiação de curtas da Cinéfondation, programa também ligado ao Festival de Cinema de Cannes, com o curta “Cantareira”, que seguia a mesma temática. O projeto era seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da Academia Internacional de Cinema, em São Paulo. “Esse apoio [que recebi] desde a participação do meu curta já foi essencial para que muitas coisas começassem a acontecer”, relembra.
Grandes nomes passaram pela residência
Além do brasileiro, foram acolhidos nesta fase da residência a húngara Flóra Anna Buda, o italiano Andrea Gatopoulos, a chinesa Xiwen Cong, o austríaco Simon Maria Kubiena e a norte-americana Constance Tsang. Eles participam do programa entre 15 de março e 31 de julho. Um segundo grupo, também de seis cineastas, se beneficia do mesmo programa na sequência.
O projeto La Résidence du Festival de Cannes já está em sua 49ª edição. Durante esses anos, o programa recebeu mais de 250 cineastas, oriundos de 60 países. Entre os participantes da residência, muitos fizeram carreira internacional de sucesso, como a argentina Lucrecia Martel, selecionada duas vezes para o Festival de Cannes (2004 e 2008), o belga Lukas Dhont, premiado em Cannes em 2018 e 2022, ou ainda o brasileiro Karim Aïnouz, laureado em Cannes e na Berlinale, entre outros.
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De Capão Redondo para o mundo: Lincoln Péricles leva “quebrada” brasileira a Paris e conecta periferias
3/31/2025
A obra do cineasta brasileiro Lincoln Péricles LK espelha o vigor e a criatividade da produção cinematográfica brasileira contemporânea. O diretor, roteirista e montador que retrata em seus filmes o bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, está fazendo uma residência artística em Saint-Denis, na região parisiense, depois de ter sido um dos convidados de honra do Festival Regards Satellites. Ele conecta na França seu projeto de “Cinemateca da Quebrada” com a “Cinémathèque idéale des banlieues du monde” (A Cinemateca ideal das periferias do mundo).
Lincoln Péricles LK começou a filmar muito jovem, usando o telefone celular presenteado pelo patrão de sua mãe. Em 15 anos de carreira, produziu filmes, longas e curtas-metragens, que mostram a quebrada onde nasceu e mora, seus moradores e histórias. A obra de LK integra o território periférico do Capão Redondo à produção cinematográfica nacional.
O diretor já passou por vários festivais de cinema, venceu prêmios no Brasil e agora, pela primeira vez, exibe seu trabalho em Paris. O 3° Festival Regards Satellites, ou Olhares Satélites, de Saint-Denis, periferia de Paris, realizado no início de fevereiro, incluiu em sua programação vários filmes de LK, como “O Cinema Acabou”, “Mutirão: o Filme”, “Cohab” ou “Filme de Aborto”.
LK participou das sessões ao lado de outro cineasta brasileiro, Adirley Queirós, natural de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Os dois “estão na linha de frente de reformulação dos desafios políticos e estéticos da criação cinematográfica do Brasil” escreve Claire Allouche, programadora do festival.
Saudando calorosamente cada parceiro que cita, LK diz que essa experiência em Paris está sendo incrível. “O meu corpo sendo o território que eu habito antes do território físico, eu sempre acho muito incrível poder (me) conectar com pessoas de outras quebradas, de outros lugares do mundo”, indica.
Embaixador das quebradas
O paulista ressalta que ele e todos os moradores das quebradas sempre têm que “desfazer a imagem de Brasil que as pessoas têm” pelo mundo. Segundo LK, o Brasil em que ele vive “é um outro Brasil, a nossa classe é uma outra classe. Então, a gente se conecta com as pessoas que também são parecidas com nós (sic) e aqui tá sendo a mesma fita”.
O cineasta, que já esteve em outros países, como Quênia e Uganda, desenvolvendo projetos, concorda que exerce uma função informal de embaixador dessa produção cinematográfica periférica e contemporânea brasileira. No entanto, para internacionalizar sua carreira, conseguiu superar barreiras - de língua e de acesso a ações afirmativas - e destaca que representa um coletivo.
“Eu sou só mais um dessa grande quebrada que é o Capão Redondo. Só que se eu posso, de alguma forma, trazer mais dos meus junto comigo. De certa forma, eu me vejo como uma pessoa que está apresentando um outro Brasil, um outro painel de vozes, de poéticas que normalmente não têm acesso ou recurso para atingir outros países”, pondera.
Depois do Festival Regards Satellites, Lincoln Péricles iniciou uma residência artística em Saint-Denis. Ele realiza na periferia parisiense um filme com a mesma estética, entre ficção e documentário, que caracteriza sua produção. “Como eu disse, o meu corpo é o meu território. Cada lugar que eu acessar, vou conseguir produzir a poesia que eu produzo no quintal de casa ou em qualquer outro lugar do mundo”, afirma o cineasta.
LK salienta a necessidade de registrar, documentar as quebradas, e defende o cinema periférico como contraprova do processo de colonização, apagamento e violência do Estado contra o povo. Citando um amigo, ele também define sua estética como “magia”.
Os primeiros planos do filme realizado com os moradores e artistas locais serão exibidos na segunda etapa do festival Regards Satellite de Saint Denis, que acontece de 3 a 6 de abril, em parceria com a Mostra de Tiradentes.
Cinemateca ideal das periferias do mundo
A partir de maio, Lincoln Péricles deve finalizar o...
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"Sob o bolsonarismo, ‘Ainda Estou Aqui’ jamais teria sido produzido", diz Marcelo Rubens Paiva
3/28/2025
O roteirista, escritor, dramaturgo e gaitista Marcelo Rubens Paiva está em Paris para participar de um encontro na universidade Sorbonne Nouvelle nesta sexta-feira (28). Em entrevista à RFI, ele falou sobre seus novos projetos, após o sucesso mundial de "Ainda Estou Aqui", e comentou a decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou réus, na quarta-feira (26), o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete aliados por tentativa de golpe de Estado.
Daniella Franco, da RFI em Paris
"Esse julgamento é, para mim, a trajetória do óbvio, é o que estava escrito", diz Marcelo Rubens Paiva. Para o autor de "Ainda Estou Aqui", obra em que foi baseado o filme homônimo de Walter Salles, não há dúvidas de que houve uma tentativa de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Todo mundo que é bem informado, que não se informa apenas pelas fake news e mentiras das redes sociais, as pessoas que leem e que sabem o que está escrito nas entrelinhas, as pessoas que viram as imagens do que estava acontecendo em Brasília [em 8 de janeiro de 2023], viram que era evidente que aquilo iria acontecer", ressalta.
No entanto, o escritor não acredita que haja espaço para um novo regime autoritário no Brasil hoje, a exemplo do período militar que viveu e retrata no livro "Ainda Estou Aqui", quando seu pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, foi preso e morto nas dependências de um quartel do Rio de Janeiro, em 1971.
"Há um esgotamento do ideal autoritário no Brasil. Não é mais uma tese popular. Uma pequena porcentagem de pessoas acreditava que a solução seria um golpe de Estado, e não fazia o menor sentido aquilo", diz, referindo-se ao projeto de Bolsonaro e aliados.
No entanto, Marcelo reconhece que a situação "assusta" e lembra que o golpe de 1964 ocorreu de forma similar ao planejado pela atual extrema direita brasileira, "sob iniciativa de uma minoria que acabou convencendo uma maioria". "Se nós estivéssemos hoje vivendo sob o bolsonarismo, certamente muitas desgraças estariam acontecendo. O 'Ainda Estou Aqui' jamais teria sido produzido e talvez eu estivesse preso ou exilado", ressalta.
Presença requisitada na Sorbonne Nouvelle
Marcelo Rubens Paiva está em Paris para participar de um encontro na universidade Sorbonne Nouvelle nesta sexta-feira, dentro do ciclo "Primavera Brasileira". Os ingressos para o evento estão esgotados há semanas. Segundo o co-diretor e idealizador do ciclo, o professor Leonardo Tônus, a vinda do autor de "Ainda Estou Aqui" foi um pedido dos próprios universitários.
"Para a minha vida literária, é algo inédito", comenta Marcelo. Segundo ele, a solicitação ocorre por dois motivos: o imenso sucesso do filme de Walter Salles na França, onde o longa-metragem registrou a maior bilheteria na Europa, e o interesse de jovens acadêmicos pelas consequências de regimes autoritários no mundo.
"Os estudantes estão muito preocupados e muito interessados nesses temas recorrentes atualmente em relação a regimes autoritários, à luta democrática, ao passado, à memória, à abertura de arquivos", afirma. "Esse tipo de assunto está despertando na juventude do mundo todo, inclusive do Brasil, muito interesse para ser debatido", reitera.
Além disso, para Marcelo, a curiosidade do público francês pelo filme, que segue em cartaz no país quase três meses após a estreia, se deve à universalidade da trama, que classifica de feminina e feminista. "É sobre uma mulher, com cinco filhos, injustamente viúva, e que tem que lutar para se reconstruir, educar seus filhos e recuperar sua dignidade", resume. "Se você olha hoje o que acontece com as pessoas na Hungria, em Gaza, em Israel, agora, nesse momento nos Estados Unidos, onde há gente sendo pega na rua para ser expulsa, na Argentina, no Irã, e em muitos outros países autoritários, você vê que o tema do filme não morre", completa.
Já sobre a polêmica matéria do jornal Le Monde, onde a atuação de Fernanda Torres foi classificada de "monocórdica" por um...
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Filme sobre a correspondência de Marcia Tiburi e Jean Willys no exílio é lançado em festival francês
3/27/2025
O longa-metragem "Hoje longe, muitas léguas", do diretor carioca Dado Amaral, estreou nesta semana no Festival do Filme Documentário de Paris, conhecido entre os franceses como Le Cinéma du Réel (o cinema da realidade, em tradução livre). Com o título em francês "Chansons d'exil", Amaral leva às telas a correspondência entre a filósofa e escritora gaúcha Marcia Tiburi e ex-deputado federal baiano Jean Wyllys, obrigados a se exilar na Europa devido às perseguições da extrema direita no Brasil.
Marcia Tiburi e Jean Wyllys leem as cartas que trocaram durante os quatro anos e meio em que se viram desterrados do Brasil, após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018. Eles só retornaram ao Brasil em meados de 2023.
O périplo da ex-candidata do Partido dos Trabalhadores ao governo do Rio de Janeiro, para escapar das campanhas de ódio e das ameaças de morte de extremistas de direita, começou nos Estados Unidos, depois houve a mudança para Paris e ainda um período em Berlim. Jean Wyllys, deputado pelo PSOL, que já vivia sob escolta policial desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, mudou-se para Barcelona.
Apesar da distância entre as duas cidades, os dois amigos se apoiaram nos momentos dolorosos do desenraizamento e questionaram o revisionismo que impregnou boa parte da sociedade brasileira, trinta anos depois do fim ditadura de 1964-85.
Em entrevista à RFI, o diretor Dado Amaral conta que conheceu Marcia Tiburi em uma reunião na capital francesa, apresentados por um amigo em comum. Na época, Dado sabia que Jean Willys tinha sido obrigado a renunciar ao seu terceiro mandato de deputado federal, devido aos ataques homofóbicos e à perseguição de bolsonaristas. Mas foi apenas na convivência com a escritora e filósofa que o cineasta se deu conta da gravidade da onda fascista na qual o Brasil foi arrastado.
O projeto do documentário nasceu antes da publicação do livro epistolar "O que não se pode dizer", de Marcia e Jean, lançado pela editora Civilização Brasileira. O filme tem a sabedoria de omitir nomes de generais golpistas, de líderes de movimentos fascistas e de fazer referências à família Bolsonaro. Concentra-se em levar à tela a torrente de emoções e revolta que marcaram os anos de exílio dos dois protagonistas.
Relato sóbrio
Com 1'17 minutos de duração, o público internacional tem a possibilidade de saber mais sobre esse período de retrocesso histórico do Brasil. Com sobriedade, Marcia e Jean descrevem os efeitos do fascismo em suas vidas. Falam de assédio moral, medo, vidas ameaçadas, trabalho e relações pessoais sacrificados, dificuldades financeiras, exílio, depressão e da imensa solidão no estrangeiro.
"Fiquei muito orgulhoso de estar nesse festival, que está em sua 47ª edição", destaca o cineasta. "Chansons d'exil" foi apresentado na sessão especial dedicada a produções de temática política contemporânea.
O longa começa com uma bela imagem externa de um cedro do Líbano plantado no Jardim Botânico de Paris (Jardin des Plantes), perto de um dos apartamentos onde Marcia Tiburi morou na capital francesa. A árvore, trazida de seu país de origem, foi plantada no jardim parisiense em 1734. Na terra nova, o cedro libanês criou raízes fortes: resistiu à queda da Bastilha (1789), à Primeira Guerra Mundial (1914-18), à ocupação nazista na Segunda Guerra (1938-45) e segue firme desafiando ameaças. Um símbolo de esperança.
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