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Economia - Pandemia: que mudancas no mercado de trabalho vieram para ficar?

RFI

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Location:

Brazil

Networks:

RFI

Description:

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Language:

Portuguese


Episodes
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Comissão Europeia quer incitar correntistas a investirem os € 10 trilhões adormecidos em poupança

10/15/2025
Os europeus são os campões mundiais da poupança: € 10 trilhões (R$ 63,7 trilhões) estão parados em contas seguras e com baixo rendimento no bloco, uma fortuna que a Comissão Europeia busca agora mobilizar. Um plano que alia educação financeira, produtos mais acessíveis e incentivos fiscais foi lançado no começo do mês, de olho em trazer esse dinheiro para a economia real. Entre os países ricos, ninguém poupa mais do que os europeus, um dos impactos de longo prazo das duas guerras mundiais no continente. Além do aspecto cultural, outro entrave é que o sistema financeiro no bloco não é totalmente integrado e transparente, uma barreira para os cidadãos tirarem o dinheiro da poupança para investir em ações. “O problema principal não é o nível de poupança em si, mas a orientação dela. Em todos os países europeus, os investimentos a risco, em empresas e no sistema produtivo em geral, são relativamente limitados”, afirma Luc Arrondel, diretor de pesquisas do prestigioso CNRS, na França, e professor da Paris School of Economics (PSE). “Se comparamos com os países anglo-saxões, por exemplo, a grande diferença é que a França ou a Alemanha não têm fundos de pensão, que poderiam apoiar os investimentos de longo prazo.” Angelo Riva, professor de finanças da Inseec Business Scholl e pesquisador associado da PSE, complementa: “Nos Estados Unidos, tem o sistema consolidated tape, que permite aos investidores acessarem qualquer bolsa, graças a um circuito seguro. Na prática, se você quiser comprar ações da Google na Bolsa de Boston, você pode e é automático. Na Europa, é mais complicado”, aponta. Rendimento negativo na poupança Bruxelas avalia que os trilhões da poupança dos europeus poderiam impulsionar o sistema produtivo no bloco, em plena crise, enquanto Estados Unidos e China protagonizam uma acirrada guerra industrial. O dinheiro, ao contrário, permanece paralisado a rendimentos próximos de zero ou até negativos, como ocorreu durante o período de inflação alta na zona, em 2023 e 2024. Um primeiro passo será tirar do papel um produto comum a todos os países: a União da Poupança e do Investimento, com ações, obrigações e fundos a partir de € 10. O objetivo é atrair investimentos de particulares em pequenas e médias empresas, para acelerar a transição energética e apoiar grandes projetos do bloco. Angelo Riva salienta o impacto da fraca educação financeira dos cidadãos, que, num contexto de grandes incertezas econômicas, afeta a sensibilidade ao risco. Ele também destaca o problema de intermediação entre os correntistas e os bancos. “Na Europa, não é muito fácil, para as pessoas pouco familiarizadas com mercados financeiro, investimentos e finanças em geral, confiarem nos conselhos de alguém. Tem um trabalho a ser feito junto aos bancários, que muitas vezes não têm as informações mais corretas ou atualizadas para oferecer”, observa. “Os clientes também têm muita dificuldade de compreender as diferenças entre as ofertas dos bancos”, indica. Dinheiro embaixo do colchão Neste contexto, uma nota do Banco Central Europeu sobre o uso do dinheiro em espécie em tempos de crise causou confusão. A instituição relatou a iniciativa de alguns estados-membros, como a Holanda e a Áustria, de recomendarem a seus cidadãos manterem em casa um certo valor em dinheiro vivo, “em caso de crise maior”. O montante sugerido, entre € 70 e € 100 por integrante da família, deve ser suficiente para cobrir os gastos de até 72h. O relatório logo foi associado ao temor de uma expansão da guerra da Rússia contra a Ucrânia pelo continente, mas segundo os especialistas ouvidos pela RFI, esta não é uma leitura adequada do estudo. Para Luc Arrondel, são as eventuais crises de energia ou de informática que estão na mira do BCE. “Em tempos de crise, as pessoas buscam liquidez, por segurança. Acho que existe uma certa angústia com a possibilidade de não ser possível fazer pagamentos pelos meios digitais”, diz o especialista em poupança. “E isso é algo bem racional,...

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Europa x China: quem vai vencer a corrida pelo mercado de veículos elétricos?

10/8/2025
A disputa entre as duas superpotências pelo domínio do setor automotivo parece ter chegado à reta final e com um cenário preocupante para os europeus. Enquanto a produção no bloco freia, o rolo compressor chinês acelera. A RFI conversou com Sigrid de Vries, diretora-geral da ACEA, a Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis, para entender as estratégias e necessidades da União Europeia nessa corrida. Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas “Não podemos deixar que a China e outros conquistem esse mercado”. A frase da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em seu discurso anual ao Parlamento Europeu é um misto de temor e determinação que sublinha bem o momento decisivo da indústria automobilística na Europa. Entre a pressão por descarbonizar o transporte, o aumento dos custos de energia e a concorrência cada vez mais feroz da China, o setor tenta redefinir suas bases para permanecer competitivo e seguir como um dos pilares da economia do bloco, empregando quase 14 milhões de trabalhadores direta e indiretamente (mais de 6% dos empregos totais da UE). Mas, pelo menos por enquanto, o setor automotivo serve como um exemplo fundamental da falta de planejamento dos europeus. A necessidade de um plano mais robusto para enfrentar a crise do setor levou Von der Leyen a se reunir por três vezes neste ano com representantes da indústria para discutir medidas de apoio. O chamado Plano de Ação, lançado em março pela Comissão e que prevê a injeção de €1,8 bilhão para a produção de baterias de carros, ainda não surtiu efeito e segue com dificuldades de tração. Os números mais recentes da indústria automotiva europeia escancaram esse cenário. A produção de automóveis na UE caiu 2,8% no primeiro semestre de 2025, enquanto na China houve um salto de 12,3%. A discrepância também é observada nos números totais. A superpotência asiática é disparada a maior fabricante de veículos do mundo, produzindo mais de 2 milhões de automóveis por mês em 2025, enquanto a Europa, em segundo lugar, não chega a 1 milhão. As montadoras europeias demonstram crescente preocupação com a crise que afeta o setor. “Precisamos que a União Europeia nos ajude a reduzir a base de custos, porque enfrentamos uma situação de desvantagem em relação aos fabricantes chineses”, afirma Sigrid de Vries, diretora-geral da ACEA (Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis), em entrevista exclusiva à RFI. “Temos uma eletricidade mais cara e infraestrutura de recarga insuficiente, o que torna o mercado muito lento para gerar escala.” O enfraquecimento das fabricantes de carros impacta principalmente no mercado de trabalho. Em diversos países europeus, como Alemanha e Suécia, a indústria automotiva emprega uma parcela significativa dos trabalhadores, chegando a mais de 10% em alguns casos. No último ano, os alemães registraram uma baixa de mais de 50 mil empregos nesse segmento, o que reverberou em toda a economia europeia. O pedido urgente das fabricantes ganha coro também no relatório de competitividade elaborado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro ministro italiano Mario Draghi. O documento de 400 páginas foi encomendado pela Comissão e é tido como uma bússola do projeto econômico da UE. Na avaliação do italiano, a Europa enfrenta um dilema. A crescente dependência da China pode oferecer o caminho mais barato e eficiente para atingir as metas de descarbonização. Mas essa concorrência também representa uma ameaça às indústrias europeias de tecnologia limpa e automotiva. Segundo o relatório, a curto prazo, o principal objetivo do setor deve ser evitar o êxodo da produção para outros países e combater a aquisição de fábricas e empresas europeias por estrangeiros. Sobre a competição com o mercado asiático, De Vries reconhece a qualidade dos carros chineses e defende uma abordagem pragmática para conciliar sustentabilidade e competitividade. “Não é uma questão de abandonar as metas de descarbonização, mas de fazê-las...

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Crise política prolongada expõe França a risco de instabilidade financeira

9/24/2025
A França experimenta o quarto chefe de governo em pouco mais de um ano e, no horizonte, não há qualquer perspectiva para o fim da crise política. Na esteira deste impasse, uma crise econômica também se desenrola: o país paga consequências cada dia mais caras de um endividamento público que chega a 114% do PIB, o terceiro maior da zona do euro. Os gastos excepcionais com a pandemia de coronavírus e com o aumento da energia desde o início da guerra na Ucrânia colocaram Paris em uma espiral de insolvabilidade. Em 2024, o déficit francês chegou a 6% em 2024, o dobro do recomendado pela Comissão Europeia aos países do bloco. E isso sem que a França estivesse em recessão, salienta o economista Eric Heyer, diretor de análises e perspectivas do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE). “Faz dois anos que isso está sendo mal gerenciado. Estamos nos enganando sobre o planejamento dos nossos recursos: não temos receita suficiente, não foi o gasto público que aumentou tanto, em pontos de PIB”, disse, à RFI. “Foram as receitas que desmoronaram, e isso começa, pouco a pouco, a preocupar. Mas repito: preocupar, não entrar em pânico.” O maior impacto é na taxa de juros de títulos do Estado francês, que disparou a 3,5% a 10 anos, ultrapassando o índice cobrado da Itália. Na sequência, a agência Fitch rebaixou a nota soberana francesa, outro sinal de que uma avalanche pode estar próxima. Para a agência americana, o índice de confiança agora é de A+, um abaixo do anterior, AA-. Reações imprevisíveis A professora de Economia Anne Sophie Alsif, da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, concorda que ainda é cedo para falar em crise financeira iminente – mas adverte para a imprevisibilidade dos mercados. “Sempre tivemos muita dificuldade de antecipar o pânico nos mercados com todas as crises de dívida”, ressalta. “Se a nossa crise política realmente se prolongar, se não conseguimos nos acertar para um orçamento, e se o nosso presidente renunciar, o que eu realmente espero que não aconteça, porque teremos uma crise política global, não posso dizer qual seria a reação dos mercados financeiros.” Olhar para o passado também não alivia a barra da França, na opinião de Anne Sophie Alsif. O país se beneficiou de anos de taxa de empréstimo próximos de zero ou até negativos, mas investiu pouco nos sistemas produtivos, que garantissem geração de crescimento econômico e empregos no futuro. O fosso da dívida se criou na base de “gastos ruins”, explica ela, sem qualquer previsão de retorno. “As despesas de planejamento do futuro estão sendo, mais uma vez, sacrificadas para financiar os gastos correntes. Enquanto isso, outros países, como os Estados Unidos, investem principalmente na produção para gerar crescimento”, compara. “Se estivéssemos com 3% ou 4% de crescimento, não estaríamos debatendo isso. Mas estamos longe, com 0,5%.” Orçamento bloqueado O impasse do Parlamento francês sobre o orçamento de 2026 acentua este cenário de incertezas. O último primeiro-ministro, François Bayrou, caiu por não conseguir apoio a um plano de economias de € 44 bilhões para combater o déficit. A França comprometeu-se com a Comissão Europeia de fazer um enxugamento de € 120 bilhões em cinco anos, mas até agora, o país foi incapaz de sinalizar como cumprirá esta promessa, destaca Eric Heyer, coautor de um relatório da OFCE sobre as finanças públicas francesas. “Ninguém está de acordo sobre qual trajetória deveremos fazer. Os partidos políticos não conseguem reconhecer a necessidade deste esforço e se acertar sobre em que ritmo ele será feito”, aponta o economista. Nas últimas semanas, o país voltou a debater o aumento da carga tributária dos ultrarricos para aumentar a arrecadação, mas a medida está longe de um consenso entre especialistas e a classe política francesa.

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França: volta de Imposto sobre a Fortuna não causaria debandada de ricos, indica estudo

9/10/2025
A crise política na França, que levou à queda do governo de François Bayrou, nesta segunda-feira (8), abriu um período de incertezas na segunda maior economia da União Europeia. O novo chefe de Governo, Sébastien Lecournu, terá o desafio de enfrentar o rombo do déficit público, que chega a 5,5% do PIB, e uma dívida no patamar de € 3,3 bilhões. A volta do Imposto sobre a Fortuna, abolido pelo presidente Emmanuel Macron, está sobre a mesa como uma das alternativas para preencher os caixas do Estado. O estopim da crise foi a proposta de Orçamento do primeiro-ministro para 2026, prevendo economias de € 44 bilhões. Um dos focos da insatisfação da oposição de esquerda é que o projeto não aumentava a participação dos ricos no esforço fiscal para o país reequilibrar as contas. O Partido Socialista defende a adoção da "taxa Zucman", de autoria do economista Gabriel Zucman e que baseou as negociações sobre a taxação dos ultra-ricos no âmbito do G20 no Brasil, em 2024. Na França, o economista propõe taxar em 2% os patrimônios superiores a €100 milhões – medida que atingiria 180 mil contribuintes e teria o potencial de arrecadar até € 20 bilhões no país, segundo o próprio Zucman. Já a direita teme que a alta das taxas leve a uma debandada das grandes fortunas, afetando, justamente, a arrecadação. A receita dos conservadores passa por mais austeridade, privatizações e cortes no funcionalismo. O Tribunal de Contas francês, por sua vez, defende um equilíbrio entre as duas vias: redução de gastos e otimização fiscal, com o fim de algumas taxas e o aumento de outras. Um relatório do Conselho de Análise Econômica, instituição independente de pesquisas que orienta o gabinete do primeiro-ministro francês, esclarece alguns clichês sobre o tema. Conforme o estudo, apenas dois em cada 1.000 ricos deixam a França por ano devido à alta carga tributária. Nicolas Grimprel, economista da entidade, explicou à RFI que o impacto da alta dos impostos varia conforme a origem da riqueza. “Tem diversos tipos de ‘alta renda’: a que vem majoritariamente do capital, em especial capital imobiliário ou financeiro, e tem a alta renda de outras fontes, como a renda do trabalho. A sensibilidade aos impostos nessas pessoas pode ser diferente”, disse. Fraca mobilidade dos ricos O principal alvo do Imposto sobre Fortuna seria a renda do capital – e estes ricos se movem pouco, aponta o relatório, tanto na comparação com a população em geral, quanto em relação aos ricos cuja renda é do trabalho. “As pessoas com patrimônio elevado tendem a ter mais idade, o que ajuda a explicar a fraca mobilidade delas, mas também o tipo de patrimônio em si, que pode ter um laço direto com o lugar onde elas moram. Não é tão fácil se mudar para o exterior quando você tem renda do capital na França, ou imóveis, ou empresas”, salientou Grimprel. O Conselho de Análise Econômica verificou se os choques fiscais dos últimos 15 anos puderam acelerar esse movimento. A reforma fiscal de 2012 e 2013 subiu a carga tributária dos ricos, mas a de 2017 não apenas rebaixou as taxas, como substituiu o Imposto sobre a Fortuna por um focado apenas no patrimônio imobiliário. Nível de impostos afasta ou atrai, mas em baixas quantidades A conclusão é que os ricos são, sim, sensíveis às mudanças fiscais. Entretanto, como representam um número limitado de contribuintes, o aumento do chamado exílio fiscal foi marginal. “Nós concluímos que, a longo prazo, o aumento de 1% do imposto de renda levaria a um exílio fiscal de entre 0,02 e 0,23% da população atingida por essa alta, ou seja, o 1% de franceses com alta renda principalmente oriunda do capital. No pior dos casos, portanto, seriam 900 contribuintes, de um total de 400 mil”, detalhou. “A ordem de grandezas é bem baixa.” Depois de 2017, houve um movimento de retorno de afortunados ao país, constatou Grimprel. “Mas, mais uma vez, isso representa, em valores absolutos, algumas centenas de famílias. Continua sendo pouca gente, afinal este fluxo é...

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‘Tsunami branco’: Península Ibérica é porta de entrada de cocaína na Europa

8/6/2025
Após sucessivos recordes de apreensões de drogas nos últimos anos, a Península Ibérica se consolida como uma das portas de entrada de entorpecentes na Europa. A rota, que já era conhecida das autoridades pelo tráfico de cannabis do Marrocos, transformou-se em um canal para as importações de cocaína provenientes da América do Sul. Em 2023, foram apreendidas na Espanha 142 toneladas da droga, contra 59 toneladas no ano anterior. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Enquanto os cartéis mexicanos buscam mercado na América do Norte, os que atuam na Tríplice Fronteira, formada por Brasil, Paraguai e Argentina, focam na clientela dos países europeus, explica Olavo Hamilton, pós-doutor em Direito na Universidade de Brasília. "A localização geográfica, principalmente do nordeste do Brasil em relação à Europa, facilita essa nova rota, principalmente de cocaína, para a França, para a Europa Central e para o norte da Europa", diz. "Geralmente essa droga parte por via marítima ou aérea. A entrada na Europa é pela Península Ibérica, onde você tem grandes portos e há uma facilidade linguística e de comunicação entre os traficantes", completa. "Tsunami branco" "Um tsunami branco", compara o ministro do Interior francês Bruno Retailleau, preocupado com "a ameaça existencial" que este tráfico representa para a França. O "Escritório Central de Repressão ao Tráfico de Drogas" francês calcula que 200 mil pessoas atuem no tráfico de drogas no país, onde as apreensões de cocaína atingiram um recorde nos seis primeiros meses do ano: 37,5 toneladas contra 25,8 toneladas, no primeiro semestre de 2024, representando um aumento de 45%. Olavo Hamilton explica porque o combate ao tráfico de cocaína é tão difícil. "Na década de 1980, o tráfico de cocaína era concentrado em poucos cartéis, organizações muito fáceis de identificar. Hoje, você tem uma rede maior de tráfico de drogas e esse poder é muito descentralizado", afirma. "Às vezes, em um estado do Brasil você tem até oito facções atuando todas na distribuição de drogas. É impossível combater o tráfico vindo dessas organizações pulverizadas na América Latina inteira", conclui. Se o número de pontos de venda física de drogas caiu no território francês para 2.729, em comparação com 4.034 no fim de 2020, outras estratégias permitem escoar a mercadoria, incluindo o uso de apartamentos para aluguel de curta temporada e sistemas de cofres escondidos com chaves contendo drogas. A queda de preços, resultado do aumento da produção, e a entrega mais fácil e abrangente por aplicativos também explicam os números recordes. "Antes, o tráfico de drogas era geralmente controlado por poucas famílias. Hoje, temos uma proliferação de locais de venda de drogas", analisa Marie Jauffret-Roustide, socióloga do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica. "Estudos disponíveis mostram que esse aumento do número de traficantes intensificou a violência associada às drogas, visto que há muito mais disputas pela manutenção do mercado", acrescenta. Violência ligada ao tráfico de drogas cresce na França Na França, a violência ligada ao comércio ilegal de entorpecentes tem aumentado em cidades de médio porte. No ano passado, houve 367 homicídios ou tentativas de homicídios relacionados ao narcotráfico, em 173 cidades. A criminalidade levou as autoridades do Gard, no sul do país, a implementarem medidas como toque de recolher em alguns bairros da cidade de Nîmes. Para a pesquisadora Marie Jauffret-Roustide, combater as drogas exige enfrentar a desigualdade social. "Se combatêssemos as desigualdades sociais e de saúde, oferecendo a esses jovens a oportunidade de se integrarem à sociedade e acessarem empregos formais, é claro que eles escolheriam essas profissões em vez de entrarem para o tráfico de drogas", diz. "Há realmente muito trabalho a ser feito sobre a questão das desigualdades sociais em bairros populares", completa. PCC na Europa Entre diversas redes que operam para controlar esse comércio lucrativo, a...

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‘Parece a Disney’: moradores do bairro Montmartre estão preocupados com excesso de turistas em Paris

7/30/2025
A convivência entre os moradores de Montmartre e os turistas, cada vez mais numerosos no bairro parisiense onde vivem cerca de 27 mil pessoas, tem se tornado problemática nos últimos meses. Nas fachadas de alguns prédios, surgem mensagens como: "Deixem os moradores viverem". Com seus jardins escondidos, moinhos, vinhedos e a Basílica de Sacré-Cœur — o monumento mais visitado da França em 2024 —, a fotogênica Montmartre começa a sentir os impactos do turismo excessivo. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris O temor é que o bairro perca sua vida cotidiana. A franco-brasileira Dgiorgia Saurin acompanhou essa transformação. “Cresci em Montmartre, é o meu bairro do coração”, conta. “Vi as mudanças ao longo da minha vida, especialmente nos últimos dez anos”, continua. “O bairro ficou mais chique e turístico. Antes era mais popular. Quando meus pais chegaram, a gentrificação já começava, mas agora virou uma Disneylândia de Paris dentro de Paris”, compara. Com a mudança do público, sorveterias e lojas de souvenirs vêm gradualmente substituindo os serviços e o comércio de bairro, lamenta Caroline Lamour, fotógrafa e moradora de Montmartre. “Antes havia lojas de bairro, açougues, padarias, etc. Mas agora, aqui em Montmartre, só restaram restaurantes”, afirma. “Os pequenos comércios estão fechando um após o outro, dando lugar a lojas que vendem produtos importados chineses”, observa. Segundo a moradora, “desde os Jogos Olímpicos, houve um aumento enorme no turismo, o que faz com que, em certos períodos, haja tantos turistas que a gente mal consegue circular”. Empurrando um carrinho de gêmeos e segurando uma menina pequena pela mão, Delphine, babá e também moradora de Montmartre, confirma: há gente demais. “São ônibus inteiros que desembarcam. As pessoas nem deixam você passar, é impressionante. A gente evita o bairro quando pode”, explica. “Os turistas são bem-vindos, mas é preciso respeitar quem mora aqui”, exige. Subimos a ladeira para a famosa Basílica de Sacré-Cœur ao lado de Felipe, que acompanhava um grupo de brasileiros. "Pelo que eu vejo aqui, acredito que haja sim um fluxo grande, maior do que a capacidade do local em relação à quantidade de pessoas, principalmente nas ruas perto das estações de Anvers e Pigalle e obviamente na Sacré-Cœur", ele descreve. "Além disso, o comércio local acabou se tornando muito turístico", completa. Outro sinal de alerta foi o fechamento de 20 turmas em escolas públicas, no ano passado, por falta de alunos. Pequenos veículos transportam os turistas no bairro, onde é preciso dirigir com atenção, nas ruelas tomadas por visitantes de todo o mundo, que vasculham as lojas de lembrancinhas. A circulação é delicada. "É muito difícil porque há muita gente, você pode rodar com a caminhonete em certos lugares, tem que ir bem devagar, não é fácil", diz o entregador Moussa. Em entrevista à RFI, ele conta que "todo dia é assim". Problema de moradia Como consequência da alta procura por Montmartre, um levantamento mostra que, em dez anos, os preços dos imóveis dispararam, variando entre € 12 mil e € 15 mil por metro quadrado — o que equivalente a cerca de R$ 80 mil por metro quadrado. Os aluguéis de longa duração praticamente desapareceram. Entre maio de 2019 e maio de 2025, o número de anúncios ativos no Airbnb aumentou 36%, segundo dados da empresa AirDNA. Montmartre se beneficia do aumento de 20% no número de turistas estrangeiros em Paris entre 2014 e 2024, de acordo com dados do Choose Paris Region. Só no ano passado, a capital francesa recebeu 22,6 milhões de visitantes internacionais. E 2025 promete ser um ano recorde. O turismo excessivo em Montmartre se tornou também uma questão política. Moradores temem a possível descaracterização de um bairro inteiro, com sua história e seu patrimônio. O exemplo a ser evitado, segundo muitos, é o bairro português de Alfama, que teria atingido um nível de saturação turística. William Gomes, brasileiro que vive em Portugal e visitava Montmartre, diz...

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'Nation branding': quando o marketing transforma um destino em sucesso turístico mundial

7/16/2025
O turismo mundial celebra a disparada dos números de visitantes percorrendo o planeta a lazer: em 2024, o setor recuperou os resultados pré-pandemia de Covid-19 e a tendência é que 2025 feche com novos recordes. O sucesso de uma série streaming ou um post nas redes sociais podem catapultar um novo destino turístico – à condição que os países ou cidades estejam preparados para receber uma invasão de visitantes. Apesar das preocupações crescentes com o impacto ambiental do turismo de massa, com as guerras em curso e a inflação em alta, os dados da ONU Turismo sinalizam bons ventos para o setor. Mais de 300 milhões de visitantes viajaram ao exterior no primeiro trimestre do ano, 5% a mais do que no mesmo período de 2024. Neste contexto, as ferramentas digitais deram impulso aos profissionais que trabalham para melhorar a imagem de um lugar aos olhos do resto mundo: o chamado nation branding. A especialidade busca aumentar a atratividade e a “simpatia” por uma cidade, região ou país, que pode despontar como um novo destino turístico por diferentes razões – a realização de um evento marcante, a locação em um filme, ou uma nova empresa que ali se instale. “Quando eu digo um destino, qual imagem, qual conceito ou ideia vem à sua mente? É disso que estamos falando, e as profissões de marketing de destinos se desenvolveram tão rápido porque têm consequências econômicas diretas”, explica o especialista francês Philippe Munier, diretor de desenvolvimento turístico da Bloom Consulting, à RFI. “Nós já mensuramos o peso dessas percepções: é cerca de 23% das receitas do turismo. Se um destino tem a capacidade de melhorar a qualidade de sua imagem em 0,1 ponto, em uma escala de 0 a 5, isso se traduz em 17% a mais na sua receita turística.” Imagem de lugar é crucial para a decisão do turista O estudo da Bloom Consulting, realizado em 55 países, indicou que a escolha de um turista é 86% motivada pela percepção que ele tem do lugar. O turismo traz na mala possibilidades de investimentos e movimenta o comércio local – mas esse potencial só vai se concretizar se houver visão estratégica dos atores públicos e privados sobre o que precisa ser feito para os visitantes serem bem recebidos. Eles então operarão como vetores exponenciais deste novo destino, ao espalharem a imagem positiva do local nas suas redes. “O imaginário turístico também serve para atrair e convencer investidores. A Michelin, por exemplo, precisa atrair talentos de outros lugares, às vezes do outro lado do mundo, para suas fábricas, escritórios e laboratórios no interior da França. E esses talentos, além do próprio argumento da empresa, preferem se estabelecer em uma área onde tenham a garantia de uma incrível variedade de atividades de lazer para seus fins de semana e para as férias de seus amigos que eles quiserem receber durante a sua expatriação”, salienta Munier. “Então o quanto o turismo é uma indústria, principalmente pela imagem que transmite, e que impacta todos os setores da economia.” Países do Golfo consolidaram posição no mapa turístico mundial Um dos exemplos mais marcantes de trunfo dessa estratégia são os países do Golfo. Os investimentos em massa em infraestruturas ultramodernas, como aeroportos, tornaram Emirados Árabes Unidos, Omã e, cada vez mais, até a Arábia Saudita, paradas obrigatórias não só para o trânsito entre Ásia e Ocidente, como os tornaram destinos turísticos consolidados no mapa mundial. Neste universo, o caso de Dubai é emblemático: fenômeno nas redes sociais, a cidade erguida no deserto recebeu um recorde de 18,7 milhões de visitantes no ano passado – muito à frente do Brasil, com 6,7 milhões. A professora de Ciências da Informação da universidade francesa de Clermont Auvergne, Nawel Chioni, também chama a atenção para o impacto fulminante que podem ter as séries de TV, retroalimentadas pelos posts nas redes sociais. A pequena cidade francesa de Colmar, por exemplo, teve de se acostumar com a avalanche de turistas chineses que vêm...

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Moda circular e upcycling reforçam caminhos sustentáveis para um setor têxtil em transição

7/10/2025
No Brasil, em 2023 cada cidadão descartou, em média, 21 quilos de têxteis, couros e borrachas por ano, segundo levantamento da S2F Partners, hub especializado em gestão de resíduos e economia circular. Na Europa, o cenário também é preocupante: de acordo com a Agência Europeia do Meio Ambiente, cada habitante da União Europeia gera cerca de 16 quilos de resíduos têxteis anualmente. Diante deste quadro, impulsionado pelo mercado fast fashion, iniciativas como a moda circular e o upcycling de tecidos ganham força para promover uma economia mais sustentável. O objetivo é reduzir o impacto ambiental do setor têxtil e promover práticas que valorizem a reutilização das peças e a responsabilidade ambiental. Somente na França, a Refashion, organização de gestão e prevenção de resíduos têxteis, calcula que os franceses joguem fora em média 700 mil toneladas de roupas todos os anos – e os números vem aumentando, estimulados pelo alto consumo a baixos custos, facilitado pelas compras online. Novas formas de consumo e redução do lixo têxtil Em Paris, a estilista franco-brasileira Márcia de Carvalho está por trás da Chaussettes Orphelines, associação que oferece uma segunda vida às meias e outras peças pelo reaproveitamento de fios. As peças rejeitadas são transformadas em fios para bordados e costura. Márcia destaca a importância de marcas, agências do governo, associações e instituições “comunicarem e criarem uma pedagogia em volta do desse assunto”, para alertar o consumidor final sobre o descarte de roupas e calçados. “É super importante porque é uma mudança de comportamento. A gente tenta fazer isso comunicando através das coletas e explicando que tem outras formas de tratar o lixo, que começa já pela triagem", explica. "Não é apenas jogar fora, mas procurar lugares que vão transformar. É um primeiro gesto de para redução desse lixo têxtil. Outra coisa é a pedagogia do conserto, do reparo, de customizar a peça, que é um jeito bem legal de reduzir esse lixo”, defende a estilista. Em Paris, a Chaussettes Orphelines divulga oficinas para encorajar o conserto de roupas e a criatividade para transformar peças antigas ou com algum defeito. A iniciativa também já capacitou centenas de mulheres para o mercado de trabalho, desde 2008. Márcia enfatiza ainda a coletas de materiais que a associação realiza em empresas e que cofinanciam as iniciativas de upcycling. Ressignificar os resíduos têxteis industriais No Brasil, dados de 2023 indicam um descarte de 4,6 milhões de toneladas de lixo têxtil por ano pela população. Mas os números são mais impressionantes na indústria, que jogam fora cerca de 37 vezes mais, mesmo que o país tenha uma série de leis que regulamentam a reciclagem de resíduos industriais, salienta Ariane Santos, fundadora da empresa paranaense Badu Design, que atua no upcycling socioambiental. “São mais de 170 milhões de toneladas de material residual por ano. Tem a regulamentação, mas não tem a fiscalização, então o número hoje de material residual industrial é bem maior. A gente fala que é só a ponta do iceberg. São materiais que devem durar mais de 500 anos no meio ambiente”, aponta Ariane. O trabalho da Badu Design é dar uma nova vida aos resíduos industriais têxteis das empresas e também de gerar empregos, já tendo formado mais de 1,5 mil mulheres periféricas em design circular de transformação residual, no Paraná, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, e, em breve, em Minas Gerais. “O que a gente faz hoje é oferecer para as indústrias um serviço que visa ressignificar esse material. Algumas empresas fornecem toneladas de materiais. Formamos mulheres em periferias e favelas para fazer toda uma produção de produtos que têm design mais contemporâneos e que venham agregar valor. Depois, essa empresa faz a recompra”, diz, à RFI. Ariane Santos conta que a capacitação gera uma mudança econômica para as mulheres que estão na periferia e favela. “A gente também faz com que a indústria não veja [o descarte de...

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Nova meta da OTAN reforça virada geopolítica para uma economia de guerra

6/25/2025
Os trinta e dois países-membros da OTAN reunidos em Haia, na Holanda, debatem um acordo que prevê que 5% de seu PIB seja direcionado à defesa: 3,5% à chamada "defesa pura", com armas e tropas, e 1,5% suplementar aos investimentos em cybersegurança e mobilidade militar. O objetivo é um dos temas centrais da Cúpula da Otan, que termina nesta quarta-feira (25). Mais de um terço dos membros da aliança ainda não alcançaram o objetivo atual de dedicar ao menos 2% de seu produto interno bruto à defesa, ainda que as despesas no setor aumentaram desde a invasão russa à Ucrânia há três anos. Com a escalada militar na guerra entre Israel e Irã, após a intervenção dos Estados Unidos no domingo (22), bombardeando três locais nucleares iranianos, as despesas com armamentos passam a ser prioridade para vários governos ocidentais. Além disso, desde sua eleição em novembro de 2024, o presidente norte-americano Donald Trump condicionou sua participação na OTAN ao aumento da contribuição financeira dos aliados. David Baverez, especialista em geopolítica e autor do livro Bienvenu en Économie de Guerre (Bem-vindo à Economia de Guerra, em tradução literal), explicou em entrevista à France 24 (canal de tevê do grupo da RFI), que esta nova organização geopolítica coloca os países ocidentais em direção a uma economia de guerra, que ele diferencia da economia de defesa que visa apenas o aumento das despesas no setor em relação ao PIB. "A economia de guerra não é apenas uma economia de defesa. Quando se está em uma economia em tempos de paz, como vivenciamos por 30 anos, entre 1989 e 2020, a economia é impulsionada pela demanda, pelo consumidor. Em uma economia de guerra, você é impulsionado pela oferta e, mais especificamente, pela produção, ainda mais precisamente, pelos gargalos de produção, porque é muito difícil produzir", explica. "Mas o que os políticos estão tentando dizer é que é apenas um problema de defesa e que, se passarmos de 2% para 3% do PIB para a defesa, o problema estará resolvido e nós, os cidadãos, não sentiremos o impacto. E eu digo que não é bem assim. A economia de guerra afeta a todos porque todos, em nossas atividades, vemos claramente que a dificuldade hoje é produzir." Impacto social O impacto para a população e a incompatibilidade com o sistema de proteção social de um aumento das despesas militares foram os motivos reivindicados pela Espanha para se manter fora do acordo. O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez escreveu ao secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, alegando que o compromisso de gastar 5% do PIB em defesa "não era apenas irracional, mas também contraproducente". No domingo (22), Sánchez afirmou que havia chegado a um acordo com a Aliança que permitiria ao país cumprir seus compromissos sem ter de aumentar o gasto de defesa até o nível exigido pela organização. Mas para Christophe Gomart, vice-presidente da Comissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, os investimentos em defesa podem ter um impacto positivo nas economias europeias. "Os países terão, de fato, que gastar muito mais. Gastar mais significa mais contratos. Para as nossas indústrias de defesa, isso significa mais faturamento. Ou seja, é um círculo virtuoso: se gastarmos mais em defesa, faremos os fabricantes trabalharem mais, faremos os empregos funcionarem mais e enriqueceremos”, disse em entrevista à RFI, afirmando que, para que isso aconteça, é necessário manter os investimentos dentro da União Europeia. “Existem todos os tipos de indústrias de defesa na Europa. Somos perfeitamente capazes de atender às necessidades europeias de armas." Mas o aumento dos gastos dos países com armamentos preocupa, como explica Loïc Founil, porta-voz da coalizão de organizações contra a militarização, Guerra à Guerra, que teme que os investimentos em educação e saúde sejam redirecionados para defesa. "Uma economia de guerra significa que não há dinheiro para as escolas, não há dinheiro para os hospitais, mas gastamos milhões para financiar...

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Paris Air Show reúne novidades da aviação em edição marcada pela guerra e investimentos em defesa

6/18/2025
O maior e mais antigo salão aeronáutico e espacial do mundo, o Paris Air Show, acontece até domingo (22) no aeroporto de Le Bourget, nos arredores da capital francesa. Ponto de encontro para fabricantes de aviões e armamentos, o evento é a ocasião para apresentar tecnologias de ponta e anunciar novos contratos. Este ano, porém, a programação sofre o impacto da guerra comercial e da escalada de tensões entre Israel e o Irã. Maria Paula Carvalho, de Paris Quase metade dos 2.400 expositores são franceses, de grandes corporações a pequenas e médias empresas. O Brasil é representado por dez fabricantes que oferecem soluções avançadas para os setores aeroespacial e de defesa, com destaque para a Embraer, presente no salão há mais de 40 anos, e que exibe o jato E195-E2 e o cargueiro militar KC-390 Millennium, já adquirido por países como Holanda, Áustria e Suécia, além do A-29 Super Tucano, aeronave leve de ataque e treinamento. Entre os destaques comerciais, a europeia Airbus anunciou importantes encomendas: a AviLease adquiriu 10 cargueiros A350F e 30 modelos A320neo, com opção de ampliar para 22 e 55 unidades, respectivamente. Já a Riyadh Air encomendou 25 Airbus A350-1000, com direito de compra de mais 25 aeronaves. A fabricante americana Boeing, por sua vez, reduziu sua participação este ano, após a queda de uma de suas aeronaves operadas pela Air India, na semana passada. A tragédia, de causas ainda desconhecidas, deixou 279 mortos entre ocupantes do avião e pessoas atingidas em terra. O diretor-geral da empresa, Kelly Ortberg, que era aguardado no salão para falar dos planos de recuperação da companhia, cancelou a sua vinda a Paris. Foco na defesa Cerca de 47% dos expositores têm atuação militar, refletindo o foco crescente em defesa. Em meio ao conflito na Faixa de Gaza e a recente ofensiva de Israel contra o Irã, o governo francês ordenou o bloqueio do acesso aos estandes de cinco fabricantes israelenses de material bélico que exibiam "armas ofensivas", segundo autoridades francesas. Os estandes da Israel Aerospace Industries (IAI), Rafael, Uvision, Elbit e Aeronautics foram cobertos por lonas pretas. Uma decisão "escandalosa" e "sem precedentes" segundo Shlomo Toaff, vice-presidente da Rafael, fabricante de mísseis israelenses. “Um dos nossos funcionários ligou para os organizadores. Eles disseram que se tratava de uma ordem do governo francês. Isso é estranho, pois na semana passada, um tribunal francês, que havia sido acionado, decidiu que poderíamos participar do evento. Apesar dessa decisão, o governo não permite mostrar o nosso estande: é escandaloso!”, lamentou. Se a edição de 2023 viu as encomendas aumentarem após a pandemia de Covid-19, a edição deste ano acontece num contexto de guerra comercial e da desaceleração da economia mundial, com as empresas enfrentando custos em alta e cadeias de suprimentos afetadas. “O maior desafio atual dos industriais, seja civis ou ligados à defesa, é a capacidade de aumentar a produção", explica Louis Catala, consultor aeronáutico. Em entrevista à RFI, Catala afirma sobre o futuro do setor: "Hoje, vemos que as carteiras de encomendas estão completas pelos próximos anos e a questão é saber com que velocidade é possível aumentar as entregas. Outro ponto importante é saber em que momento poderíamos passar a uma economia de guerra, a questão não é se, mas quando isso aconteceria, para que os fabricantes possam organizar a sua capacidade material e planificar os pedidos". Corrida ao espaço Enquanto muitos países se lançam na corrida espacial, franceses e europeus mostram sinais de declínio nessa área. Menos lançamentos, menos financiamento e uma dependência crescente de tecnologias estrangeiras. De acordo com um relatório do Instituto Montaigne, a Europa responde atualmente por apenas 5% da massa orbital global lançada a cada ano. O bloco também investe seis vezes menos do que os Estados Unidos nessa área estratégica, em que almejava a liderança global. A Europa sofre o...

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Eventos sobre oceanos dão impulso inédito à economia azul

6/11/2025
A 3ª Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos em Nice, na França, esta semana, e o Fórum de Economia e Finanças Azuis, ocorrido no domingo, em Mônaco, dão um impulso inédito à economia azul, as diversas atividades realizadas no oceano de forma sustentável. Elas englobam desde setores tradicionalmente dependentes dos mares, como a pesca, o turismo e o transporte, até alta tecnologia – de bioquímica aos cabos submarinos usados para a conexão mundial de internet. Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Nice Segundo estimativas reveladas em Mônaco, o potencial de oportunidades econômicas e financeiras é de US$ 25 bilhões ao ano. A ONU e as maiores instituições multilaterais financeiras, como o Banco Mundial, salientam que a “blue economy” estimula o crescimento econômico nos países, principalmente em desenvolvimento, e, quando implementada segundo critérios ambientais rigorosos, ajuda a preservar os ecossistemas marinhos. O professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) Alexander Turra, diretor da cátedra sobre Sustentabilidade do Oceano da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura), vê um “potencial gigantesco” para o Brasil, com seus quase 10 mil quilômetros de áreas costeiras. Ele brinca que a economia azul vai "do bolinho de aipim” nas praias brasileiras até a produção de energia renovável offshore. "Agora ela é ampliada para outras atividades que ajudam o oceano a manter a sua vitalidade. O saneamento, que ajuda a combater a poluição das cidades, também pode ser enquadrado como economia azul, porque ajuda a não perdermos o potencial do turismo, por exemplo”, explica. Os potenciais variados no turismo costeiro ainda incluem ações ambientais importantes como promover a proteção de recifes de coral e manguezais. "A gente também está falando de inovação, tecnologia, celulares, aplicativos, startups – empresas que estão começando e precisam ser aceleradas. É um ecossistema de oportunidades”, aponta. Economia do mar x economia azul O biólogo marinho Ricardo Gomes, presidente do Instituto Mar Urbano, estreou no evento o documentário Quanto vale o azul?, sobre o uso sustentável dos recursos do mar no Rio de Janeiro. O filme ilustra o potencial econômico para a cidade do turismo sustentável, a biotecnologia marinha e a pesca responsável, entre outros exemplos – atividades que, ao mesmo tempo, são regenerativas do meio ambiente. Na área da pesca, Gomes observa que os conhecimentos tradicionais de comunidades locais garantem os estoques pesqueiros a longo prazo. Na escala mundial, a pesca industrial – que explora cerca de 80% dos peixes – causa prejuízos estimados em US$ 83 bilhões aos pescadores artesanais por ano, conforme a ONU. "É muito importante a gente separar a economia do mar da economia azul. A economia do mar é também tudo que a gente vem fazendo de errado com relação ao oceano: a pesca industrial, a exploração de petróleo, o transporte marítimo em larga escala. Eles não estão preocupados em não deixar pegada e preservar”, salienta Gomes. "A economia azul é aquela que, por exemplo, cultiva alga que não agride o meio ambiente e filtra toxinas da água, absorve CO2, produz alimento e abrigo para a fauna marinha. Preservar a vida no mar, garantir a transição da economia do mar para uma economia azul, é garantir a nossa resiliência enquanto espécie, no enfrentamento às mudanças climáticas”, disse. Flexibilização da legislação pode afastar investimentos Na conferência de Nice, a UNOC3, os países estão apresentando compromissos voluntários para reforçar a proteção dos mares da poluição, da pesca excessiva e do aquecimento global, que ameaçam a continuidade das atividades que dependem dos oceanos. O pesquisador Alexander Turra salienta que, ao apresentar sete compromissos voluntários, o governo brasileiro sinalizou à comunidade internacional, mas também empresarial, que o país busca atrair investimentos nestes setores. "A gente criou uma janela pública de...

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Dobram as fusões e aquisições de empresas francesas no Brasil, e a tendência deve continuar

5/21/2025
No ano que marca o bicentenário das relações diplomáticas, a França continua demonstrando forte interesse pelo Brasil. Em 2024, os franceses se consolidaram como o segundo maior grupo de investidores por meio de fusões e aquisições no mercado brasileiro, em setores como infraestrutura, transporte, energia, entre outros. Essa parceria tende a continuar próspera, segundo especialistas e empresários ouvidos pela RFI. Estudo da consultoria PwC Brasil indica um aumento de 50% no número de negócios fechados em 2024 em relação ao ano anterior, com 21 fusões e aquisições realizadas por empresas francesas no mercado brasileiro. Um exemplo é a Swile, especializada em benefícios flexíveis, como vouchers e vales, que já conta com 220 funcionários e 800 mil usuários de seus cartões no Brasil, seja para alimentação, combustível, prêmios ou outros fins. A empresa atua no mercado brasileiro desde a aquisição da Vee Benefícios, a primeira startup brasileira focada em benefícios. Em entrevista à RFI, o CEO da Swile na França, Loïc Soubeyrande, explica por que o Brasil é um mercado estratégico: "O país dispõe de um sistema financeiro moderno e fortemente regulamentado, sem falar que os brasileiros são pioneiros na adoção de novas tecnologias", afirma. "A solidez do direito trabalhista nos dois países também cria uma afinidade natural", continua o executivo francês. "O Brasil não é somente um grande mercado, é também um país estratégico para inovação e crescimento global", conclui. De acordo com o CEO da Swile no Brasil, Júlio Brito, a expectativa da empresa é alcançar lucratividade no país em 2025. "Com a aquisição da Bimpli, o grupo BPCE, o segundo maior banco da França, passou a ter 22% de participação. Isso nos trouxe muito mais solidez e oportunidades", avalia em entrevista à RFI. O executivo comenta a aquisição pelo grupo francês e as oportunidades que ela representou: "Hoje, nós oferecemos até oito benefícios em um único cartão, de maneira simples, sem necessidade de vários plásticos na carteira. É um ganho de eficiência para o RH (Recursos Humanos) e para o colaborador, que tem muito mais liberdade de utilização", acrescenta. "Oferecemos às empresas uma solução ultramoderna para que possam pagar os vouchers e vales aos funcionários. O mercado brasileiro é um dos maiores do mundo, com mais de 20 milhões de trabalhadores beneficiados e fatura cerca de R$150 bilhões por ano – é o maior do mundo em volume", analisa. Quem também sai ganhando é o consumidor brasileiro. "Ter um vale que funciona como cartão de crédito é uma boa solução, facilita muito a minha vida. Eu consigo gastar o valor que recebo em qualquer lugar", explica a jornalista Marianna Perri. Ela destaca as vantagens de ser usuária do serviço e a confiança que sente em uma empresa de origem francesa: "Ele também funciona na carteira do celular, não preciso andar com cartão de plástico por aí. Como usuária, é muito mais fácil para mim e para a empresa também. Eu recebo meus vales – alimentação e refeição – e tenho auxílio home office", continua. "Eu me sinto bastante confortável em saber que é uma empresa francesa que está por trás. As empresas francesas no Brasil têm uma reputação forte e relevante, e isso me traz segurança de que não vou perder dinheiro, de que o cartão não será descontinuado", conclui. Outro destaque é a empresa de navegação CMA CGM, que anunciou a compra da operadora Santos Brasil, em um negócio avaliado em R$ 13,2 bilhões, por meio do qual a companhia francesa se tornou operadora de um dos principais portos brasileiros. Já presente em aeroportos nacionais, a francesa Vinci venceu o leilão para a concessão rodoviária entre Goiás e Minas Gerais, com investimentos previstos de R$ 6,5 bilhões. Vencedora do leilão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a francesa Engie deve investir R$ 3 bilhões em linhas de transmissão em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Milhares de empregos diretos Varejo, defesa, resíduos,...

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Em 100 dias, Trump rompeu com a ordem econômica mundial e forçou parceiros a se reinventar

4/29/2025
Que Donald Trump é surpreendente, já se sabia. Mas quem imaginaria que, em apenas 100 dias, a ordem econômica mundial viraria do avesso? Guerra de tarifas contra os principais parceiros comerciais, cortes draconianos nos gastos federais, rompimento com a doutrina neoliberal que consolidou a hegemonia econômica dos Estados Unidos desde o pós-guerra – a lista de medidas controversas é longa e seus efeitos positivos, duvidosos. Em menos de três meses, o presidente da maior economia do planeta quebrou a confiança dos aliados e instalou nervosismo nos mercados financeiros, com a sua avalanche quase diária de medidas bombásticas. O chefe de Estado transportou para a política as suas práticas de empresário para negociar. "Não há nada de surpreendente no que o Trump está fazendo se analisamos o histórico dele: um homem que se fez no agressivo mercado imobiliário de Nova York. É um choque? É, mas não é nada que ele não tenha prometido que faria, quando chegasse ao governo”, observa Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de Comércio Internacional na PUC-SP. "Quando ele trata aliados como inimigos, como fez com a Dinamarca em relação à Groenlândia, ou sobre a anexação do Canadá, ele coloca uma desconfiança não apenas nos seus rivais, mas nos seus próprios parceiros. Essa desconfiança, aliada às mudanças na economia, podem fazer com que os países procurem outros aliados, porque não se confia mais nos Estados Unidos”, resume Daniela Freddo, professora de Economia da Universidade de Brasília (UnB). 'Um elefante entre porcelanas chinesas' O aumento das taxas de importação pelos Estados Unidos à maioria dos seus parceiros comerciais acentua esta tendência. A guerra tarifária declarada contra a China e as medidas de retaliação de Pequim podem levar os chineses a favorecer outros mercados, inclusive o brasileiro, potencial beneficiado pela manobra. Outro eixo que tende a se fortalecer é o entre o Mercosul e a União Europeia, que podem finalmente acelerar a adoção de um tratado de livre comércio negociado há 25 anos, entre os dois blocos. “É até compreensível que ele coloque tarifas contra a China, mas seria mais sensato que negociasse tarifas menores com a União Europeia, com o Japão, com os países que são parceiros do projeto americano”, afirma Alves dos Santos. ”Trump realmente é um elefante numa loja de porcelana chinesa”, assinala. Nestes primeiros 100 dias do governo do magnata, o Brasil foi alvo de um aumento de 10% das taxas de importação, mas não apareceu como um alvo prioritário das medidas hostis de Trump. O país, entretanto, pode vir a ser uma vítima colateral de uma ofensiva do presidente americano contra o Brics, principalmente se o grupo de potências emergentes acelerar os projetos de substituição do dólar nas suas trocas comerciais, adverte Freddo. "Mesmo que o Brasil não tenha sido o mais prejudicado neste primeiro momento, sempre fica a expectativa de não se saber o que ele vai decidir amanhã”, pontua a professora da UnB. “E do ponto de vista comercial, os Estados Unidos são um parceiro muito importante porque são um mercado que compra as nossas manufaturas, com maior valor agregado. São exportações de maior qualidade do que as para a China”, pondera. Reindustrialização americana é pouco provável Donald Trump alega que os frutos da guerra comercial para os Estados Unidos virão a médio e longo prazo, com a reindustrialização americana. Mas, hoje, nada leva a crer que essa estratégia dará resultados – pelo contrário, o aumento da inflação no país é dado como certo. Ao mesmo tempo, o presidente não sinaliza planejar uma política de Estado robusta para favorecer a indústria nacional. “As propostas econômicas de Trump não têm nenhum fundamento econômico: as tarifas vão aumentar os preços dos produtos consumidos pelos norte-americanos, o que causa um choque inflacionário. É um efeito inegável”, indica Alves dos Santos. "Quanto à ideia da reindustrialização, para alguém que vem da América Latina, a gente conhece este...

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Comitiva brasileira faz turnê na Europa para acelerar aprovação de acordo entre Mercosul e UE

4/23/2025
Aproveitando-se da brecha aberta pelo presidente Donald Trump, que iniciou uma guerra tarifária entre os Estados Unidos e o resto do mundo, uma comitiva brasileira inicia nesta quarta-feira (23) uma turnê por três países europeus para promover o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. A iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE) também conta com empresários. A viagem terá três etapas, ao longo de uma semana: Portugal, Polônia e Bélgica. Lisboa é uma das maiores aliadas de Brasília na ratificação do acordo, assinado em dezembro de 2024 após 25 anos de idas e vindas nas negociações. Entretanto, para entrar em vigor, o acordo precisa ser aprovado pelos países que compõem os dois blocos. O texto encontra-se em fase de adequação jurídica e tradução para todos os idiomas dos países envolvidos, um procedimento técnico que deve se estender até agosto ou setembro. O processo pode ser acelerado pelo aumento generalizado das tarifas de exportação para os Estados Unidos, que leva tanto o Mercosul, quanto a União Europeia a buscarem alternativas de mercado para compensar o impacto nas vendas para os americanos. O acordo UE-Mercosul abre as portas de um mercado de 718 milhões de pessoas e tem potencial de atingir US$ 22 trilhões em trocas comerciais. O presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, Otacílio Soares da Silva Filho, demonstra otimismo. “Nós teremos o bloco mais relevante do mundo. O importante vai ser começar a implementar o acordo, para que as populações dos países possam perceber que é melhor convergir do que divergir”, avalia. “As empresas de vários países membros da União Europeia perceberam que gerar um relacionamento com o sul global, com o Mercorsul, vai gerar um mercado que elas vão poder aceder com mais facilidade do que o mercado americano, nesta atual fase”, constata. Divisão interna na UE Em nota, Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, salientou que a atuação do governo Lula para avançar o processo tem sido “crucial”, mas “ainda há muito trabalho a ser feito”. “Os esforços para aprovação do acordo mostram para o mundo que esses dois grandes blocos estão dispostos a seguir no caminho do multilateralismo, alinhado a práticas sociais, ambientais e de governança”, disse. Para concretizar o projeto, as barreiras internas na Europa precisam cair – este é o objetivo da segunda e terceira etapas da missão da ApexBrasil com o MRE. Ao lado da França, a Polônia se opõe abertamente à conclusão do tratado de livre comércio, por temer a concorrência dos produtos agrícolas do Mercosul. Em Varsóvia, a comitiva brasileira deverá ter reuniões com representantes dos setores de Agricultura, promoção Comercial e Investimentos, e Ciência, Tecnologia e Inovação. O mesmo deve ocorrer em Bruxelas, onde fica a sede da Comissão Europeia, que negocia oficialmente o acordo. Fecham o grupo dos reticentes a Irlanda, a Holanda e a Itália. Juntos, eles poderiam compor um “bloqueio de minoria” ao projeto. Do outro lado, os maiores defensores do tratado são Alemanha, Espanha, Portugal, Dinamarca, Suécia e Estônia, entre outros. França admite que efeito Trump beneficia negociações com Mercosul No começo do mês, durante visita do ministro da Fazenda Fernando Haddad a Paris, o ministro francês da Economia, Eric Lombard, reiterou a oposição francesa à ratificação do tratado, mas reconheceu que a guerra comercial travada por Trump “acelera" as discussões "em favor das negociações" com o bloco sul-americano. Lombard disse que Paris e Brasília têm em comum o desejo de “desenvolver o multilateralismo e o espírito de cooperação no mundo”, porém reafirmou que "as condições hoje não estão postas” para que o texto seja ratificado pela França. O ministro salientou que as condições ambientais e agrícolas previstas no texto ainda precisam “evoluir”. O assunto deve ser um dos focos da visita de Estado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva...

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Inflação persistente dos alimentos reflete falhas do modelo agrícola exportador do Brasil

4/16/2025
Os preços dos alimentos puxam a inflação para cima há anos no Brasil, com impacto em toda a economia. A conjuntura externa contribui para a alta dos preços, mas não explica tudo: a inflação de produtos básicos como carne, tomates, ovos e café reflete gargalos antigos da produção agrícola no país e ilustram o despreparo para lidar com o desafio de peso da crise climática. Os preços dos alimentos têm respondido por cerca de 25% da inflação, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A desvalorização cambial acentuada em 2024 encarece as importações de fertilizantes e de commodities cotadas no exterior, como soja e milho, base das rações animais, e estimula as exportações. As de ovos, um dos vilões da inflação, subiram 342% em março. "Por ser um grande exportador e por pegar um período em que os preços no mundo cresceram, não há lógica na racionalidade dos empresários em vender lá fora por um valor e aqui dentro por um menor. Neste século, a FAO indica que os preços dos alimentos em termos reais subiram 72%”, aponta José Giacomo Baccarin, professor de Economia Rural da Unesp e um dos responsáveis pelo programa Fome Zero. "Isso tem também um efeito indireto nos produtos em que a gente não tem grande participação internacional, como arroz, feijão, frutas e verduras, porque eles disputam área com os produtos comercializados – você produz mais soja e menos feijão", assinala. Assim, uma potência agrícola como o Brasil pode se encontrar com escassez de oferta para o seu mercado interno, explica o economista André Furtado Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas. "A gente produz tanto que daria para dar conta de exportar e ainda abastecer o mercado brasileiro. A questão é que há um descasamento no processo: você dá conta, mas não o tempo todo”, afirma. "Em algum momento, como quando o rebanho está reduzido, no ciclo da pecuária, se junta com uma moeda desvalorizada, você pode ter um choque de oferta." Remédios de curto prazo Essa dinâmica é acentuada por decisões com efeito de curto prazo do governo, como aumentar as importações para baixar os preços – mas que prejudicam os pequenos produtores nas safras seguintes. “Se você compra leite em pó importado no período de entressafra, você acaba não permitindo que o pequeno produtor recupere o seu aumento de custos – e aí ele quebra. Na próxima safra, você gerou um problema doméstico, porque se ele não parou em pé, na próxima safra a oferta vai ser menor e você vai ter um problema no leite”, salienta Braz. "É uma falta de visão de perceber o quanto essas coisas atrapalham. Você tem que importar em situações muito específicas”, avalia. Somam-se a isso falhas estruturais da cadeia produtiva no Brasil, como a logística, ainda baseada no transporte rodoviário ineficiente, e a armazenagem. Apesar da ter uma vasta rede de rios que atravessam o país, modais de transporte fluvial quase não são usados e o marítimo é subutilizado, assim como o ferroviário. O transporte de carga por caminhões, muitas vezes em estradas sequer pavimentadas, encarece o preço final do alimentos. Debate sobre estoques reguladores Em meio à inflação persistente, o governo planeja elevar os investimentos em estoques reguladores estratégicos de grãos. Braz reconhece que o mecanismo é caro e de gestão complexa, mas avalia ser uma ferramenta eficiente para o país se defender da alta dos preços, seja por fatores externos ou domésticos. “Os desafios de hoje são desafios climáticos mais frequentes, o que significa que os problemas de safra vão se repetir com mais frequência. Como a gente deve se preparar para eles? Enquanto a tecnologia não nos garante grãos que sobrevivam à inundação e à seca extrema, a gente vai precisar dar um jeito”, diz. A maior recorrência de secas extremas tem afetado as pastagens e levado os pecuaristas a aumentar as importações de milho e trigo para compensar, por exemplo – com impactos em toda a...

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Fim da globalização? Tarifaço de Trump acelera recuo do livre comércio iniciado há 10 anos

4/9/2025
Enquanto o mundo assimila a ampliação generalizada de tarifas de importação dos Estados Unidos, economistas se questionam se a aceleração do protecionismo americano em 2025 será o evento o histórico que marcará o fim da globalização tal como conhecemos desde os anos 1990. Com o recuo dos americanos, protagonistas e propulsores do livre mercado, abre-se um período de incertezas sobre os rumos do comércio internacional e o modelo econômico que poderá emergir. Lúcia Müzell, da RFI em Paris No dia 2 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a adoção de taxas de pelo menos 10% sobre uma longa lista de produtos vindos de praticamente todos os países do globo. A China é o alvo número 1, chegando, após o anúncio de novas tarifas, a 104%, à frente dos 26% aplicados sobre as importações da Índia, 20% à União Europeia ou 10% ao Brasil. Para Vincent Vicard, professor de Economia Internacional na Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne e diretor-adjunto do Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII), a retraída americana no livre comércio representa o "choque mais importante da história da globalização", como jamais visto desde o período entre guerras. “Ainda faltam muitos aspectos a serem esclarecidos sobre qual vai ser a amplitude deste choque, mas ele é muito mais abrangente do que foram as medidas do primeiro mandato de Trump. Lembremos que as importações americanas correspondem a 13% de todo o comércio mundial”, disse. “Estamos diante de um questionamento profundo das regras do comércio internacional, uma vez que Trump introduziu discriminações entre os países – o que contraria totalmente as regras do comércio internacional e da Organização Mundial do Comércio”, afirma Vicard. Entraves à globalização desde o Brexit Apesar de ser um business man, Trump não parece se importar com o impacto negativo da sua guerra comercial sobre mercados financeiros e os investimentos, mergulhados na instabilidade desde a sua volta ao poder. Laurence Nardon, diretora do programa Américas do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), avalia que o presidente americano moldou à sua maneira o fim da globalização, um processo iniciado já no seu primeiro mandato e continuado por Joe Biden – e do qual o Brexit, no Reino Unido, também foi um marco importante. “A virada que Trump acelera agora de forma brutal e excessiva está em curso desde 2015. As pessoas, os eleitores dos países ocidentais, cansaram da globalização dos anos 1990. Na realidade, isso começou com a grande crise financeira de 2008: ela fez muitas pessoas tomarem consciência de que a globalização não estava funcionando para elas, principalmente na classe média”, explica a pesquisadora. “Essa percepção nos levou ao Brexit e à primeira eleição de Trump. Hoje estamos vivendo a confirmação de um grande movimento de volta atrás da globalização”, constata a autora de "Géopolitique de la puissance américaine" ("Geopolítica da potência americana", em tradução livre). O componente ideológico de Trump acrescenta uma grande incerteza sobre este processo, salienta Vincent Vicard. O presidente defende a retirada dos Estados Unidos da cena internacional para se concentrar exclusivamente no povo americano – o que pode significar, por exemplo, cortar o apoio logístico americano que garante a segurança de grande parte do transporte de mercadorias ao redor do planeta. Futuro do livre comércio Qual o futuro da globalização sem o seu maior promotor? O pesquisador do CEPII afirma que a maioria dos países do globo apoia a continuidade do sistema de livre mercado, mesmo que muitos endossem as críticas sobre o peso que a China adquiriu no comércio. “Os outros países vão poder continuar no mesmo sistema, apesar da virada protecionista americana? O risco hoje é de uma escalada comercial no conflito, em relação aos Estados Unidos, mas também ao resto do mundo, porque teremos reorientações do comércio em meio a um choque violento, que vão criar...

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Preços em queda, oferta de usados em alta: depreciação de carros Tesla na Europa preocupa clientes

3/26/2025
Depois de registrar quedas consecutivas nas vendas na Europa, agora o aumento da oferta de veículos usados Tesla em plataformas de revenda é mais uma amostra de um fenômeno que os analistas do mercado acompanham desde meados de 2024. A cotação da marca de Elon Musk no continente não para de baixar. Na França ou no Reino Unidos, o número de anúncios de usados disparou. Na principal plataforma francesa, La Centrale, a alta foi de 40% no primeiro trimestre no ano, na comparação com o mesmo período de 2024, reporta o jornal Le Parisien. Outros sites de revenda por particulares ou profissionais, como Leboncoin e Aremisauto, também registram aumento de modelos Tesla postos à venda, com preços em queda. Na Inglaterra, a plataforma Gummtree verificou uma alta ainda mais impressionante dos anúncios em um ano, de 128%. Ao mesmo tempo, os números mais recentes da Associação de Fabricantes Europeias de Automóveis constatam que as vendas de Tesla novos despencaram 49% no bloco europeu em janeiro e fevereiro, no período de um ano – e apesar de a comercialização de veículos elétricos em geral ter subido 28% no continente. A entrada de Elon Musk na política e as derivas extremistas do CEO explicam parcialmente essa rejeição, mas o declínio da marca começou antes, ressalta Tomaso Pardi, diretor da rede internacional de pesquisas no setor automotivo Gerpisa, ligado à prestigiosa Paris Saclay. “É preciso ter em mente que o pior inimigo de um carro novo é um carro usado. Para poder diferenciar um do outro, é necessário se renovar sem parar, oferecer novidades, ampliar a oferta para atender a uma demanda que cresceu. Os chineses estão fazendo exatamente isso, a uma velocidade exponencial. Eles lançam novos modelos a cada dois anos, e a Tesla continuou focada em apenas dois modelos, basicamente, o Y e o 3”, aponta. “Isso tudo me lembra quando a Ford foi superada pela General Motors nos anos 1920: temos um pioneiro, mas se ele não se renova suficientemente rápido e se banaliza, a sua participação no mercado pode baixar muito rápido”, afirma o especialista. Impactos a médio prazo Os proprietários buscam se desfazer da mais badalada fabricante de veículos elétricos num momento em que ataques contra os Tesla se multiplicam em diversas cidades europeias. Carros foram queimados em concessionárias ou em plena rua em Toulouse e Deux Sèvres, na França, e em Berlim e Dresde, na Alemanha, nas últimas semanas – em uma repetição na Europa de ataques que começaram nos Estados Unidos. O parisiense R. aderiu à marca em 2023. Coberto por seguro, o pai de família afirma não temer um ataque – mas tem receio do impacto negativo das posturas políticas de Elon Musk sobre a confiança na empresa. Apesar de gostar do veículo, R. pensa seriamente em passar o carro adiante. “Nós pensamos muito e o que nos impede hoje é o preço. Se quiséssemos vendê-lo hoje, provavelmente perderíamos dinheiro. Estamos sem opção, inclusive porque ainda não tem um modelo equivalente no mercado europeu”, alega o cliente. “Quando vejo o último Renault 5, que no papel parecia ser bom, mas que logo depois de sair já teve um recall, ou quando vejo os crossover urbanos que não tem nada a ver com o que eu gosto, percebo que os fabricantes europeias não estão reagindo muito bem neste setor de mercado.” Oferta europeia As fabricantes europeias têm a vantagem de oferecer uma ampla gama de veículos híbridos, que se mostram atraentes para os clientes neste período de transição para a eletrificação. Mas este é justamente o setor em que os chineses também são agressivos. Os aumentos de impostos de importação aplicados na UE no ano passado têm surtido efeito na competitividade, mas o atraso na concepção dos modelos ainda é flagrante, avalia o analista automotivo Guillaume Crunelle, da Deloitte. "Hoje, em toda a parte digital, os concorrentes da Ásia ou dos Estados Unidos continuam claramente na frente dos construtores europeus. Por outro lado, os objetivos da UE estão postos, os investimentos...

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Guerra tarifária de Trump fortalece influência da China no Sul global

3/12/2025
A entrada em vigor das novas taxas alfandegárias entre Estados Unidos e China impacta a economia dos dois países – e uma das estratégias de Pequim para reagir à ofensiva de Donald Trump é reforçar a cooperação e influência chinesas junto aos países em desenvolvimento. Dependente das exportações, a China fortalece os caminhos abertos pelo projeto Novas Rotas da Seda na América do Sul, na África e na própria Ásia. No começo do mês, o presidente americano subiu para 20% as tarifas de importação para todos os produtos chineses. O governo do presidente Xi Jinping respondeu, a partir desta semana, com taxas de 15% direcionadas a setores agrícolas americanos, em especial soja, milho e frango. Os Estados Unidos estão entre os principais clientes da China: compram cerca de 15% das suas exportações. “A China não quis ir além nessa guerra comercial e ressaltou que ela é uma fonte de estabilidade, em um mundo multilateral. Ela se coloca como o país sensato da história”, observa Mary-Françoise Renard especialista em economia do desenvolvimento, com foco na China, e professora emérita da Universidade Clermont Auvergne. “Ela visou setores e empresas que constituem berços eleitorais trumpistas, mas dos quais, Pequim não é muito dependente. Desde a primeira eleição de Trump e ainda mais depois da segunda, ela diversificou muito os seus parceiros comerciais – ela compra bem mais soja do Brasil, por exemplo.” O ambicioso Novas Rotas da Seda, projeto de investimentos em infraestruturas nos países do Sul global, se insere neste contexto – sobretudo depois do primeiro mandato de Trump. Enquanto o presidente americano faz ameaças aos seus parceiros comerciais, Pequim prometeu financiar mais de US$ 50 bilhões em três anos nos países africanos. Em novembro de 2024, poucos dias depois da eleição de Trump para um novo governo, Xi Jinping promoveu um giro pela América Latina e fechou mais de 60 acordos de cooperação. Também inaugurou o que será o maior porto da região, o complexo portuário de Chancay, no Peru, com financiamento chinês. Dinâmica ganha-ganha Nos últimos anos, a maioria dos países latino-americanos e africanos alçou Pequim ao posto de maior parceiro comercial, lembra Benjamin Bürbaumer, professor assistente de Economia Internacional na Sciences Po de Bordeaux, e autor de Chine/ Etats Unis: le capitalisme contre la mondialisation ("China e Estados Unidos, o capitalismo contra a globalização", em tradução livre). “O programa compensa um pouco os desequilíbrios macroeconômicos internos da China, mas ao financiar infraestruturas no resto do mundo, na África, na América Latina ou na Ásia, responde a uma necessidade real desses países. Segundo a ONU, a cada ano faltam entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão de investimentos em infraestruturas, e esse valor foi crescendo justamente depois do Consenso de Washington, nos anos 1980, quando os Estados Unidos passaram a exigir que os países pobres reembolsassem as suas dívidas e adotassem políticas de austeridade”, relembra o especialista. “É esse problema que a China vem, em parte, compensar – e não o faz por caridade, afinal isso a ajuda a reequilibrar a sua própria economia”, salienta. As taxas americanas chegam num momento de desaceleração econômica chinesa, com uma crise imobiliária persistente, consumo interno baixo e nível elevado de poupança, efeitos crônicos das políticas voltadas à exportação das últimas quatro décadas. O governo de Pequim acaba de anunciar um novo plano para estimular o crescimento e a geração de empregos, mas falhou em não oferecer medidas de apoio ao consumo das famílias, avalia Mary-Françoise Renard. “Não foram medidas estruturais. É claro que elas podem apoiar, indiretamente, a demanda, mas para dar uma ideia, o peso da demanda no PIB chinês é de menos de 40% e nos Estados Unidos é de quase 69%”, disse a autora de La Chine dans l’économie mondiale – entre dépendance et domination ("A China na Economia Mundial: entre dependência e dominação”, em tradução livre)....

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Caso Milei ilustra fascínio de libertários por criptomoedas, mas confiança de investidores no ativo também cresce

2/26/2025
A criação de uma memecoin pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o escândalo da ascensão e queda meteórica da criptomoeda Libra na Argentina, sob o estímulo do presidente Javier Milei, ilustram o fascínio de seus apoiadores libertários pelos criptoativos. Mas o crescimento desses ativos também atrai cada vez mais investidores tradicionais, enquanto algumas das criptos mais famosas se consolidaram e um número crescente de transações pode ser realizada apenas por blockchain, sem passar pelo sistema bancário tradicional. Bitcoin, Ethereum ou stablecoins: essas palavras entraram no vocabulário econômico nos últimos anos e ganharam um impulso inédito com a volta ao poder de Donald Trump. O republicano planeja transformar o país na “capital mundial” das criptos e deu a largada à flexibilização da regulação em vigor. Deseja, ainda, instaurar uma “reserva nacional de ativos digitais”, que poderia contar com fundos das reservas de ouro americanas. Resultado: pela primeira vez, o Bitcoin ultrapassou a cotação de US$ 109 mil, em janeiro. “Se olhamos a valorização dos criptoativos nos últimos anos, a começar pelo Bitcoin, que iniciou em 2009, e outros que se seguiram, vemos uma curva exponencial. Mas se olharmos com mais cuidado, precisamos considerar a volatilidade muito alta”, pondera o economista francês Quentin Demé, professor de finanças da Sorbonne e autor de “100 mots pour comprendre les cryptomonnaies” ("100 Palavras para Compreender as Criptomoedas", em tradução livre). “Em 2024, o Bitcoin começou o ano a US$ 50 mil, baixou a US$ 30 mil nos meses seguintes, ou seja, a 40% do seu valor. Na sequência, graças a algumas declarações de Trump, disparou a mais de US$ 100 mil”, resume o especialista, à RFI. Demé relembra que as criptomoedas emergiram sob o impulso de geeks para escapar do controle do sistema tradicional e reencontrar uma forma de liberdade total para as transações financeiras, sem custos, impostos ou sequer registros. Para esses usuários, as moedas são utilizadas pelos Estados para controlar as populações. Entretanto, na medida em que o sistema amadureceu, se tornou um investimento seguro para uma gama variada de interessados, mediante alguns cuidados. “Temos ainda essa ala das pessoas que se dizem libertárias e que, com as criptomoedas, querem se liberar dos bancos centrais, do FMI, etc. Não esqueçamos que elas fazem parte da população mundial”, afirma. “No entanto, uma grande maioria dos usuários fez essa opção como outra qualquer de investimento, para multiplicar as suas economias de uma maneira diferente das que existiam até agora.” Sétimo ativo mais valioso do mundo O economista observa que, apesar dos riscos da sua alta volatilidade, os investimentos em criptoativos já superaram o equivalente ao PIB de países como a França ou o Reino Unido. As criptos são hoje o sétimo ativo mais valioso do mundo – atrás do ouro ou da capitalização da Apple e da Microsoft, mas à frente da Meta. Na França, um a cada oito investidores dispunha de criptoativos em 2024, uma alta de 28% em relação ao ano anterior, conforme levantamento da Associação pelo Desenvolvimento dos Ativos Digitais, com o instituto Ipsos e a consultoria KPMG. Dimitri Yem, diretor-geral do Yem Patrimoine, na região parisiense, se especializou em aconselhar clientes afortunados no universo das criptos, em busca de diversificação patrimonial. Ele nota que, à medida em que as criptomoedas passaram a ser aceitas até no comércio, a confiança também cresceu. “Qualquer pessoa que possui criptos hoje pode viver quase totalmente à margem do mundo bancário tradicional. Ainda precisamos dos bancos, mas eu diria que 75% das nossas necessidades são cobertas sem os bancos, a menos que precisemos de empréstimo para um projeto imobiliário, por exemplo – embora até empréstimos possam ser feitos por criptos, e é bem simples”, explica. Países 'cripto-firendly' Desde novembro, a famosa loja de departamentos Printemps, em Paris, aceita pagamentos diretamente...

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Sombra do declínio econômico alemão paira sobre vizinhos europeus

2/19/2025
A locomotiva europeia está em pane. Louvada há mais de meio século por suas indústrias, suas exportações e seu mercado de trabalho, a Alemanha amarga há dois anos uma recessão cuja luz no fim do túnel ainda não apareceu. A situação econômica delicada é um dos principais temas da campanha eleitoral no país, para as eleições legislativas de domingo (23). A pandemia de coronavírus e as consequências da guerra na Ucrânia atingiram em cheio a Alemanha, altamente dependente da performance industrial e das exportações. A disparada dos preços da energia e a concorrência chinesa colocaram o modelo econômico alemão em xeque e o país entrou no caminho da desindustrialização, com recuo de 3% da produção e 10 mil empregos industriais perdidos por mês. "Podemos dizer que a Alemanha ficou para trás em relação aos grandes países da zona do euro. Basta olhar para a evolução do crescimento alemão depois da crise do Covid. O nível de produção está muito pouco superior aos de 2019, enquanto que nos outros países desenvolvidos, a começar pelos Estados Unidos, este índice progrediu bastante”, resume Céline Antonin, economista sênior do Observatório Francês da Conjuntura Econômica (OFCE), de Paris, e especialista na zona do euro. "A Alemanha está claramente estagnada há cinco anos e hoje é difícil ver como ela vai enxergar o fim do túnel”, disse ela à RFI. A concorrência americana depois da entrada em vigor do Inflation Reduction Act (IRA) nos Estados Unidos, sem que a Europa tenha reagido à altura para apoiar a sua indústria, acentuou esse quadro. Do outro lado, o avanço espetacular da China sobre o precioso setor automotivo, por meio dos carros elétricos, pegou Berlim de surpresa. As companhias alemãs que deslocaram em peso sua produção para o país asiático privilegiaram joint ventures, com parcerias incluindo transferência de tecnologia – uma escolha que hoje se volta contra o próprio país. "Os alemães tiveram as suas tecnologias copiadas em alguns setores e, uma vez que a China se apropriou dessas tecnologias alemãs, passou a reproduzi-la sozinha. No setor automotivo, ela ultrapassou a Alemanha a partir de 2023, e a Alemanha ainda é dependente de vários produtos chineses, como os componentes eletrônicos, diodos, circuitos integrados, o que amplia a sua vulnerabilidade”, nota Antonin. Efeito Trump torna futuro mais nebuloso Agora, o retorno de Donald Trump à Casa Branca, com seu America first, e a distribuição de tarifas de importação aos parceiros comerciais dos Estados Unidos, a situação fica ainda mais dramática. O Instituto de Economia Alemã de Colônia avalia que o "efeito Trump" poderá causar € 180 bilhões de prejuízos em quatro anos para o país. "Tem uma parte considerável dos empregos alemães que dependem da indústria exportadora, e é por isso que a Alemanha promove tanto o livre comércio. Passarmos a ter um mundo mais fechado, com tarifas de importação, não é nada bom para ela”, observa a economista. A vulnerabilidade energética alemã fez com que o país sofresse mais do que os vizinhos com os impactos da guerra na Ucrânia e os cortes de fornecimento de gás pela Rússia. Resultado: os preços de toda a cadeia produtiva aumentaram e não baixaram mais. Em janeiro, em uma cena rara, empresários ocuparam o emblemático Portão de Brandemburgo, em Berlim, para alertar os candidatos a chanceler sobre o risco de “declínio" do país e pedir “reformas econômicas urgentes”. A queda dos preços da energia é uma das principais reivindicações. "Os empreendedores estão na rua porque a situação está mais grave do que nunca. Os empregos e a prosperidade do nosso país estão em perigo”, disse um manifestante. "A Alemanha tem um enorme problema de competitividade. Há anos, as nossas advertências são ignoradas pelos políticos." Investimentos públicos paralisados Com discurso liberal, os conservadores do CDU são os favoritos – mesmo que, no horizonte, a vitória possa significar uma aliança com a extrema direita, em nome da governabilidade. O candidato...

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